quarta-feira, 2 de novembro de 2011

[Crítica Social] Universidade e repressão


UNIVERSIDADE E REPRESSÃO

Na noite da última quinta-feira fomos obrigados a assistir um espetáculo deprimente na Universidade de São Paulo, um espetáculo de violência absurda e gratuita, resultado de uma ação repressiva perpetrada pela polícia militar contra os estudantes.

O motivo alegado – suposto porte de maconha por três estudantes – definitivamente perdeu qualquer importância. Não há nenhuma proporcionalidade entre tal motivo alegado e a ação da polícia. E nada poderia, de qualquer maneira, justificar a violência indiscriminada contra um grupo inteiro de estudantes – sobretudo se tivermos em vista que esses estudantes estavam desarmados e apenas exerciam uma prerrogativa indiscutivelmente legítima de protestar.

Não há que se falar, nesse sentido, que os policiais agiram apenas em sua própria defesa. A polícia dispunha de toda a “vantagem” fornecida por armas, equipamentos e treinamento, de modo que não esteve verdadeiramente “ameaçada” pela mobilização estudantil em momento algum. Assim, toda a discussão a respeito de “quem começou” a agressão, além de assumir contornos descabidamente infantis, também perde o seu sentido: ainda que tenham sido os estudantes, a resposta da polícia jamais poderia ter sido tão desmedida e tão arbitrária.

Mais ainda, não há que se falar que a ação da polícia limitou-se a restabelecer a “ordem”. Porque havia perfeita “ordem” na USP antes da ação da polícia. Se houve “desordem”, esta foi causada precisamente pela violência policial. A ação da polícia foi, portanto, não a solução, mas a verdadeira causa do problema.

O que, de um modo geral, este espetáculo deprimente revela é muito significativo. Não se trata de um episódio meramente acidental – nem é, no fim das contas, a primeira vez que algo do tipo ocorre na USP nos últimos tempos. Trata-se, na verdade, de mais uma demonstração do modo pelo qual o governo paulista vem, já há vários anos, encarando o ensino superior público estadual.

Tentativas sucessivas de privatização, sucateamento de cursos mais distantes das perspectivas mercantis, redução da pesquisa a dimensões puramente quantitativas e produtivistas, completa abdicação ao ideal de universidade como geradora de conhecimento e crítica. Este “projeto”, que agora encontra apoio irrestrito na reitoria da universidade, está combinado com uma diretriz política clara no que diz respeito ao movimento estudantil: a completa redução deste a “questão de polícia”. Não por acaso assistimos, também na USP, em 2009, a uma batalha entre tropa de choque e estudantes. Não por acaso o atual reitor foi escolhido, no ano passado, burlando o procedimento estabelecido, entre os prediletos do partido que há anos ocupa o governo estadual. Não por acaso assistimos, nos últimos meses, à completa ocupação do campus pela polícia. O futuro traçado pelas “autoridades competentes” para a Universidade de São Paulo há de ser construído, ao que parece, sob o impacto de cassetetes e sob o estrondo de balas de borracha.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 02/11/2011.]

Um comentário:

Ricardo Silva disse...

"E nada poderia, de qualquer maneira, justificar a violência indiscriminada contra um grupo inteiro de estudantes – sobretudo se tivermos em vista que esses estudantes estavam desarmados e apenas exerciam uma prerrogativa indiscutivelmente legítima de protestar."

Não mesmo, o fato de paus e pedras "levitarem" atingindo um batalhão de policiais não justifica ação policial.

Ah, nos poupe. Cada aluno da USP custa ao cidadão paulista algo em torno de R$5.000, e o sujeito fica lá viajando que está nos anos 70, fumando maconha e enchando o saco.

Tá ruim a mamata? É muita a repressão? Então cai fora, e deixa quem quer estudar, tem muita gente querendo entrar na USP pra estudar pra valer, fazer o dinheiro investido da sociedade reverter em algo útil. Vcs reclamam dos exploradores do povo, acordem, exploradores do povo são vcs mesmos.