quinta-feira, 23 de agosto de 2007

[jabá] Pachukanis, 70 anos depois

PACHUKANIS, 70 ANOS DEPOIS


(clique para ampliar)

Mais informações: kashiura@gmail.com ou oliva_felipe@yahoo.com.br

Quem puder, apareça...

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

[NJ] Agosto, a máquina e a morte

AGOSTO, A MÁQUINA E A MORTE

“Nada poderia ter sido mais óbvio para as pessoas do começo do séc. XX do que a rapidez com que a guerra estava se tornando impossível. E obviamente elas não se deram conta disso. Não até que as bombas atômicas explodissem em suas mãos impotentes.”
– H. G. Wells

Não faltam em nossa história casos de grandes tragédias de guerra, banhos de sangue, atrocidades incalculáveis. Nenhum, é certo, tão absurdamente simples, direto e instantâneo quanto aqueles que se abateram sobre Hiroshima e Nagasaki em 6 e 9 de agosto de 1945. Bastaram duas bombas e alguns segundos para dizimar mais de 200 mil pessoas e deixar por décadas entre os sobreviventes um rastro de sofrimento decorrente da emissão de radiação. Foi o ápice da eficiência de um instrumento de terror e de extermínio.

Criar instrumentos para superar a natureza, da pele de animal que aquece e da vara para coletar frutos até o monumento da indústria e da urbanidade, é isso que temos feito desde que surgimos como espécie. Nós, seres humanos, nos tornamos os donos do mundo não porque somos por natureza mais fortes, mais ágeis, sequer mais “evoluídos”. Somos os donos do mundo não porque o conquistamos com as próprias mãos, mas através daquilo que nossas mãos podem criar.

Paradoxal, no entanto, é que a maravilha da capacidade humana de criar sempre ensejou e enseja sempre mais a desgraça da capacidade humana de destruir. Do tacape à espada, da espada à baioneta, da baioneta ao tanque ou do arco à catapulta, da catapulta ao canhão, do canhão ao míssil – a história da tecnologia militar é a claramente a história do homicídio tornado cada vez mais fácil. Mas não é apenas esta a tecnologia da morte. Também a história dos instrumentos que operam para a vida, isto é, para encher o estômago, abrigar, transportar etc., é, para além do deslumbramento do “progresso”, uma história manchada de sangue.

É verdade que o arado revolucionou a agricultura, mas hoje, com a agricultura totalmente mecanizada e o desenvolvimento espetacular dos insumos rurais, há talvez mais gente com fome do que quando se praticava a agricultura mais manual e rudimentar. Assim também na indústria, que avançou da máquina a vapor à linha de produção robotizada, mas hoje encara o fato de que um contingente cada vez maior de pessoas não tem acesso sequer aos bens mais elementares para a sobrevivência.

Se em tempos passados não era possível produzir o bastante para suprir as necessidades básicas de todos, hoje seria possível fazê-lo e com folga. Mas a “lógica” da produção e da distribuição segue outros padrões. O progresso técnico assimilado pelo capitalismo como força produtiva visa sempre excluir e concentrar – para o bem de poucos e, necessariamente, para a desventura de muitos. É sempre atrás do mercado mais rentável, da eliminação do concorrente, da redução dos custos de produção, enfim, da multiplicação do lucro que o progresso corre. Se carências humanas são ou não satisfeitas, se disso decorre vida ou morte, pouco importa.

É possível produzir remédios para quase todas as doenças, mas é sempre preciso pagar por eles, ainda que a outra opção seja o fim. É possível produzir comida para os povos famintos do terceiro mundo, mas é tão mais lucrativo produzir água engarrafada ou roupas “com etiqueta”... Estranho que essa insanidade receba, no mercado, o nome de “Razão” – racional é quem faz a melhor escolha. E para aqueles que são, com muita razão, cada vez mais excluídos do maravilhoso mundo do consumo na direta proporção em que a gama de coisas dadas ao consumo se amplia resta o epíteto de preço pela glória da racionalidade humana.

Agosto sempre fará refletir sobre a banalização da morte e da destruição através da tecnologia, mas é talvez ainda mais urgente ter ciência de que, sem estrondo e sem clarão, isto se agrava diariamente. Sem salário, porque substituídos por máquinas, e sem dignidade, porque dignidade neste mundo é algo que se compra (geralmente com o salário), os excluídos são a prova de que o instrumento, criado para servir ao homem, acabou tornando o homem seu refém.

[Publicado no NOVO JORNAL de Dracena-SP em 05/08/2007]