domingo, 15 de agosto de 2010

[Crítica Social] O verde e o vermelho

O VERDE E O VERMELHO

O fato de uma das principais campanhas na eleição presidencial deste ano ter como base um discurso ambiental indica que o tema tem atraído atenção e preocupação crescentes entre os brasileiros. Trata-se de um bom sinal, visto que demonstra uma conscientização acerca da gravidade do esgotamento iminente do meio ambiente – conscientização sem a qual, não há dúvida, tal esgotamento não poderá ser impedido.

Por outro lado, o discurso ambiental, por si só, não é suficiente. Não basta constatar a destruição do meio ambiente, não basta apontar as conseqüências desta destruição. Árvores não se derrubam sozinhas, solo não se contamina por si, ar e água não se poluem por conta própria. É preciso conhecer sobretudo as causas da destruição do meio ambiente – e estas residem na estrutura econômica sobre a qual se erige a sociedade presente. É, afinal, a formação econômica fundada no valor de troca, no lucro, na acumulação infinita e, de um outro ponto de vista, num consumismo cada vez mais insanamente sem medida que leva a um “consumo” do meio ambiente igualmente insano e sem medida.

Assim, um discurso ambiental, embora absolutamente necessário, é inócuo se desacompanhado de um discurso social crítico. Quero dizer, não pode haver uma verdadeira defesa do meio ambiente desconectada de uma ação mais abrangente, mais profunda, crítica radical da formação econômica capitalista. Qualquer proposta política que se pretenda “verde”, ou seja, que se pretenda engajada na proteção do meio ambiente, não estará verdadeiramente perseguindo os seus objetivos declarados se não tiver sustento numa proposta radical de transformação social. Sem isso, o discurso ambiental não é mais do que uma “maquiagem verde” do mesmo, do já estabelecido: sem combate às causas, sem uma mudança profunda da estrutura geradora da desmedida na exploração dos recursos ambientais, não pode haver nenhuma autêntica preservação do meio ambiente.

O discurso supostamente “verde” e, ao mesmo tempo, a favor do grande capital não pode ser, portanto, um discurso ambiental autêntico. Se o grande capital é um grande devorador da natureza, então é preciso enfrentá-lo para defender o meio ambiente. É preciso, mais ainda, superar a organização social determinada pelo grande capital: pois só é possível transformar o modo pelo qual os homens se relacionam com a natureza ao transformar o modo como os homens constituem a sua sociedade.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 11/08/2010.]

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