quinta-feira, 10 de maio de 2007

[surtos e paranóias] Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam

ANNUNTIO VOBIS GAUDIUM MAGNUM: HABEMUS PAPAM

Cheguei a ter a impressão, por algum tempo, de que os conservadores estavam tímidos com o fato de serem conservadores. Parecia tão "fora de moda" ser de direita - aliás, tão fora de moda como ser radical de esquerda - que os conservadores faziam discursos tímidos, empolavam seus argumentos, disfarçavam suas posições. Mas isso acabou. Eles perderam a vergonha a tal ponto que agora até resolveram se denominar Democratas. (Se eles são os Democratas, que deus nos livre dos Republicanos!)

Àqueles que ainda têm alguma dúvida, "anuncio-vos uma grande alegria: temos um papa" para deixar claro que os conservadores voltaram com tudo. O Santo Padre se deu ao trabalho de vir de Roma até aqui para lembrar a todos os católicos que tudo que não é conservadorismo é pecado.

Teologia da libertação? Silenciem-nos!

A teologia da libertação - com a qual, fique claro, eu não concordo - merece pelo menos respeito por ser a revolta, em nome da fé e do dogma da igualdade espiritual dos homens, contra a injustiça social absurda que se mostra cada vez mais crua diante dos olhos de todos. Tamanha injustiça não pode ser "coisa de deus", mas os conservadores não a toleram. O problema, para eles, não é a religião fazer política - a Igreja nunca teve nada contra a religião se meter na política. O problema é que os padres da teologia da libertação estão jogando do lado errado...

Falam em legalização do aborto? Excomunguem-nos!

Que a questão da legalização do aborto deveria ser uma discussão laica é até bem óbvio. Ninguém pretende obrigar as beatas católicas a abortar, mas submeter todas as mulheres à lei do catolicismo definitivamente não é razoável: trata-se de dar a elas uma opção, que elas podem simplesmente rejeitar por questões de fé. Mas os conservadores não são razoáveis. O apego irracional ao princípio é sua ferramenta de trabalho. A questão dos fetos anencéfalos está aí para provar: o espetáculo bizarro que é obrigar uma mulher a carregar por 9 meses um feto que terá sobrevida de 9 segundos é absolutamente secundário, o que importa mesmo é o princípio da defesa da vida...

A verdade é que as "autoridades católicas" nunca deixaram de lado a saudade dos velhos tempos em que mandavam no mundo - tempos em que exterminar os infiéis e queimar os hereges na fogueira não tinha nada a ver com o respeito pela vida humana, esta dádiva do criador. Se a fé fosse só fé, ninguém teria nada a dizer contra ela, mas a fé é feita e representada por homens e eles estão sempre querendo meter o nariz onde não devem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou absolutamente pasmada com a tua inteligencia e lucidez. Obrigada por existires.