sábado, 25 de dezembro de 2010

[Crítica Social] Espírito do Natal


[Will Leite. Willtirando. Fonte: www.willtirando.com.br]

ESPÍRITO DO NATAL

Os últimos dias de cada ano são – ou deveriam ser, segundo certos interesses – sempre tomados por aquilo que se chama comumente de “espírito do Natal”. A decoração exageradamente colorida e exageradamente luminosa de casas e ruas, as reuniões com amigos e familiares, o cardápio típico dessas festas, os presentes, as compras. Tudo parece meticulosamente planejado para criar uma certa circunstância, um certo “clima” em função do qual o “ânimo” das pessoas deveria igualmente transformar-se.


Mas o que é – ou, pelo menos, tem sido – este “clima” senão uma espécie de catarse, uma espécie de furor coletivo inteiramente dedicado ao mais puro consumismo? O que é este “ânimo” modificado pela circunstância das festividades natalinas senão a tendência a uma completa supressão de qualquer controle na ânsia de consumir, uma suposta “justificativa” para consumir a vontade?

Comprar – eis do que se trata o Natal e o seu “espírito”. A pequena alegria de presentear o próximo, a satisfação por reunir-se com pessoas queridas (ou nem tanto), mesmo as questões religiosas, tudo não passa de cenário para uma outra satisfação, uma outra “religião”: o consumo. Não há nada além. O que há de especial na época do Natal, a exaltação da família – ou melhor, de um velho ideal de família – e da moralidade cristã, tudo isso não vai além do imaginário. Um imaginário, porém, muito convenientemente construído para atender aos interesses de quem, no fim das contas, lucra com a febre do consumo.

O Natal, que ninguém se engane, é uma celebração do capital. O seu “espírito”, portanto, não pode ser outro senão o espírito da mercadoria – ainda que a mercadoria seja a completa ausência de qualquer espírito.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 22/12/2010.]

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