domingo, 12 de dezembro de 2010

[Crítica Social] Automóvel e capitalismo

AUTOMÓVEL E CAPITALISMO

As grandes cidades brasileiras sofrem com os excessos do trânsito. O transporte público é quase invariavelmente ineficaz e deficiente. São Paulo, a maior cidade do país, tem um trânsito cada vez mais caótico e um sistema de transporte público que – a despeito da tão propagandeada expansão do metrô – é repleto de problemas. Os seus congestionamentos imensos e diários são a prova da irracionalidade cabal do excesso de automóveis que entopem as suas ruas e avenidas.

O problema, claro, é complexo, envolve mesmo a estruturação das grandes cidades, cujo crescimento têm sido pautado quase exclusivamente pelo acesso via automóvel privado. Envolve ainda questões ambientais e de saúde pública, uma vez que os veículos são prodigiosas fontes de gases poluentes, causadores de uma série de doenças. A solução imediata, no entanto, parece bastante evidente e simples: ampliar a utilização do transporte público em detrimento do automóvel privado, isto é, desenvolver os meios coletivos de deslocamento em lugar dos meios individuais.

Ora, é evidente que um veículo que transporta 40 ou mais passageiros de uma só vez, por exemplo um ônibus urbano, é mais racional do que um veículo que transporta um só indivíduo. O mesmo para os sistemas ferroviários de transporte, como trens e metrô, que podem transportar centenas de modo rápido. Por que, então, estas alternativas não conseguem suplantar o domínio do automóvel? Por que os carros, em geral transportando apenas o seu motorista, continuam reinando sem questionamento nas ruas?

É preciso considerar, antes de tudo, o aspecto econômico. Sob este aspecto, o investimento no transporte coletivo não apenas não ganha terreno – na verdade, tem perdido. Dados divulgados nos últimos dias dão conta de que a produção de automóveis no Brasil cresceu 14,6% entre janeiro e novembro de 2010, em comparação com o mesmo período de 2009. Foram produzidos, até novembro deste ano, cerca de 3.360.000 automóveis, contra os cerca de 3.183.000 produzidos ao longo de todo o ano de 2009.

Há, portanto, um ramo inteiro da produção industrial, e um ramo em crescimento, que lucra com os excessos do trânsito e da poluição. E para a própria indústria automobilística pouco importa que suas mercadorias entravem as ruas – importa apenas que alguém as compre. É este interesse, no fim das contas, que prevalece. É a multiplicação do capital que realmente importa, é a multiplicação do capital que limita antes de tudo quaisquer possibilidades de transformação – no transporte ou no que quer que seja –, não a racionalidade, não a saúde pública, não o bem-estar da população.

Assim, a despeito da obviedade da solução, é preciso ter consciência de que o caos do trânsito continuará. É preciso ter consciência de que os problemas ambientais e de saúde decorrentes não serão reduzidos. Isto é, afinal, o capitalismo...

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 08/12/2010.]

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