quinta-feira, 2 de agosto de 2012

[Crítica Social] O espetáculo olímpico


O ESPETÁCULO OLÍMPICO

Repetidos a cada 4 anos, intensamente televisionados e noticiados, os Jogos Olímpicos constituem um verdadeiro espetáculo. A produção hollywoodiana da cerimônia de abertura, a transmissão contínua, o sensacionalismo dos recordes, todos os elementos parecem meticulosamente arranjados para tanto. Quem pode correr mais rápido, quem pode saltar mais longe, quem pode vencer – em disputa, a superioridade, a glória, os limites físicos e biológicos do homem. Mas apenas isto?

Na sua suposta origem, as olimpíadas integravam uma celebração religiosa. Os gregos corriam, saltavam e lutavam em honra aos deuses. Nas olimpíadas modernas, a despeito de sua alegada ascendência, este aspecto religioso já não existe – mas os atletas de hoje certamente não empenham o máximo de suas aptidões e esforços apenas em honra ao esporte, pelo puro prazer da competição ou pela simples glória de ter o nome gravado na história como vencedor. As olimpíadas modernas são, no seu íntimo, consagradas a um único ídolo – o dinheiro.

No que diz respeito aos atletas, mais do que prêmios e medalhas, estão em disputa patrocínios e recursos que lhes permitem ganhar a vida através do esporte – ou seja, que lhes permite viver como atletas profissionais. Nenhum atleta, claro, tem “culpa” por isto – e as conseqüências disto são, ao menos diante das câmeras de TV, positivas: disputas mais acirradas, em nível cada vez mais alto, com resultados extraordinários que desafiam os limites do humanamente possível. Mas, para além das câmeras de TV, esses resultados extraordinários custam, não raro, sacrifícios e danos corporais permanentes, cujos sinais aparecem apenas depois da curta “carreira” de um profissional do esporte. São, afinal, os desdobramentos óbvios de um corpo que é adestrado, exigido e manipulado (inclusive quimicamente) para, na verdade, além do que pode suportar.

No que diz respeito aos patrocinadores, os atletas não são mais do que outdoors que se movem. E, no mundo do capital, nenhum patrocínio é ingênuo: só se investe dinheiro no esporte e no espetáculo olímpico porque isto significa, de algum modo, ganhar mais dinheiro. Não se investe, de um modo geral, uma soma exorbitante na organização e realização dos Jogos Olímpicos – dinheiro público, inclusive – por acaso. Do ponto de vista da sede, há uma evidente movimentação de recursos com o turismo e benefícios para a infra-estrutura da cidade sede que são permanentes, mas os ganhos com o turismo ficam sobretudo com a iniciativa privada e as melhorias na infra-estrutura poderiam (ou deveriam) ser feitas independentemente das olimpíadas ou de qualquer evento do tipo. O que move, no fim das contas, todo o espetáculo é o interesse privado de alguns poucos.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 01/08/2012.]

Nenhum comentário: