quarta-feira, 6 de junho de 2012

[Crítica Social] Sobre o dia mundial do meio ambiente


SOBRE O DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

Ontem, 5 de junho, foi o dia mundial do meio ambiente. Há 40 anos, foi a data de abertura da conferência de Estocolmo, primeiro grande debate organizado pela ONU para debater a questão ambiental. Ao longo desses anos, no entanto, parece não haver qualquer avanço para levar em consideração e as preocupações acerca do meio ambiente parecem não ter sido resolvidas exceto em discursos cada vez mais incisivos e cada vez menos efetivos.

Nesse sentido, o tom de alarme ou de denúncia de tudo que é veiculado pela grande mídia acerca do meio ambiente aparece em perfeita sintonia com o tom moralizante das intervenções dos ambientalistas. Em comum, em ambos os casos, um discurso cujo tom é equivocado desde o princípio e que mira objetivos igualmente equivocados.

Em primeiro lugar, não pode haver alarmismo acerca daquilo que não pode ser surpresa para ninguém. É bem verdade que a sociedade contemporânea “descobriu-se”, como nunca antes na história, capaz de aniquilar por completo os recursos e as condições naturais que permitem a sobrevivência da própria espécie humana na Terra. Mas a sociedade contemporânea, embora relativamente recente em termos históricos, é já velha de séculos. A estrutura de produção capitalista, com o seu progresso técnico característico e com a sua avidez cega e essencial pela multiplicação do capital, é o que de fato tornou a humanidade capaz de destruir-se e de destruir o seu planeta – mas esta mesma estrutura de produção progrediu, desde seu advento, apenas no sentido de tornar esta destruição cada vez mais iminente, cabal, sem volta.

Em segundo lugar, nenhum discurso pode transformar, apenas porque quem o emite assim deseja, a questão ambiental em mero problema moral. Esta moralização – isto é, a redução da questão a dever moral: “você deve reciclar seu lixo”, “você deve plantar árvores”, “se cada um fizer a sua parte...” etc. – é, ao mesmo tempo, a individualização do problema. Tudo se reduz a um problema de consciência, toda solução se resume a uma exigência de “conscientização”. “Salvar o planeta” aparece então como responsabilidade de todos, de cada um e, portanto, de ninguém. Assim desaparece por completo o que é, de fato, essencial: a dimensão propriamente estrutural da questão, a sua vinculação fundamental ao modo de produção em vista do qual toda a sociedade contemporânea está determinada em última instância.

Desaparece por completo, no mais, o que há de mais importante e, ao mesmo tempo, de mais desesperador acerca de qualquer perspectiva de solução: o fim da ameaça de esgotamento completo dos recursos naturais só pode ser o fim de uma forma histórica de sociedade, isto é, o fim de uma forma histórica de relações de produção. Isto, por sua vez, não se pode resolver de uma hora para outra e não se pode resolver com apelo ingênuo ou hipócrita à “boa vontade”.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 06/06/2012.]

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