terça-feira, 2 de março de 2010

[Crítica Social] "Imparcialidade"?

“IMPARCIALIDADE”?

Quando assistimos aos noticiários das grandes emissoras de TV, somos freqüentemente confrontados com notícias que, a despeito da suposta “imparcialidade” da imprensa, têm caráter escancaradamente censurador acerca de temas como movimentos sociais, direitos humanos, posições políticas etc. Quando, por exemplo, trata-se da atuação do MST, quase sempre a notícia vem em tom de crítica aberta e rasteira, sem nenhuma consideração pelas razões do movimento. Quando se noticia a situação política de Cuba, da Venezuela de Hugo Chávez ou da Bolívia de Evo Morales, em geral apresentam-se todas como formas de “ditadura”, sem qualquer respeito pelas conquistas democráticas constatáveis em cada um desses países. Ou, para dar exemplos mais claros ainda: o episódio envolvendo a campanha eleitoral para presidente em 1990 e o caso da “ditabranda” no início de 2009.

Quais as razões para isto? – Eis a pergunta que o expectador deveria fazer-se diante de cada notícia que, dia após dia, recebe da grande mídia. Pois a grande mídia não se apresenta, na sociedade presente, senão sob uma forma empresarial – e, como qualquer empresa, o objetivo dos veículos de comunicação (TV, rádio, jornais, revistas, provedores de internet etc.) não é outro senão o lucro. Há, portanto, interesses econômicos por detrás de cada notícia, interesses que ligam a grande mídia a outros setores detentores do capital, que influem nesta ou naquela direção no que diz respeito à cumplicidade com a ordem e os poderes estabelecidos. Noutras palavras, isto que se chama comumente de “imparcialidade” não passa de um mito: cada notícia é noticiada do modo como convém a certos interesses e não a todos indistintamente.

Pois bem. Que existam interesses econômicos por trás do noticiamento, isto é inevitável. Mas que tais interesses sejam acolhidos acriticamente por quem não os compartilha, mesmo por quem está na situação oposta, isto é lastimável. Assim, por exemplo, é certo que o governo Lula merece diversas críticas, especialmente da esquerda, mas é compreensível que estas venham, sobretudo, das elites e dos grupos econômicos dominantes. Mas é lastimável que indivíduos das classes dominadas, que compartilham a origem social com o próprio Lula, critiquem o presidente precisamente pela origem na classe trabalhadora ou pela falta de formação escolar. Esta é uma triste demonstração de como a grande mídia pode fazer mesmo os menos favorecidos aderirem ao discurso pronto das classes dominantes, verdadeiramente “comprando o discurso do inimigo”.

Isto não quer dizer, que fique absolutamente claro, que a imprensa deve ser abandonada e que cada um de nós deve recusar toda e qualquer informação sob a desconfiança de sua possível manipulação. O que cada um de nós deve fazer é avaliar criticamente as notícias a que tem acesso, pensá-las sempre a partir do que há por trás delas, isto é, digeri-las sempre com cautela ao invés de engoli-las automaticamente.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 24/02/2010.]

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