terça-feira, 12 de janeiro de 2010

[Crítica Social] Trabalho vivo

TRABALHO VIVO

Muito se diz atualmente que o trabalho teria acabado ou estaria em vias de acabar. Pelo menos no seu sentido tradicional – se é que assim se pode dizer –, o trabalho estaria em processo de extinção: o trabalho pesado, no chão da fábrica, dado pela submissão formal do trabalhador ao empregador (leia-se: “carteira assinada”), que gera uma polarização clara entre capital de um lado e trabalho de outro (com as suas conseqüências, como consciência de classe, movimento sindical etc.) já seria, dizem, quase uma peça de museu.

Dizem que o trabalho estaria se tornando dinâmico, fluido, leve; a economia estaria deixando de ser centrada na produção, na fábrica, e estaria se tornando uma economia de serviços; a polarização explorador-explorado estaria se esfumaçando em decorrência da descentralização produtiva e das novas técnicas de gestão empresarial. Há mesmo quem se orgulhe em dizer que os antigos bairros fabris das grandes cidades estão hoje quase esvaziados e que o outrora poderoso movimento operário anda sumido. Mas isto quer dizer, então, que já não há operários ou que estes já não tem mais o que exigir?

Talvez seja fácil afirmar, para quem está, por exemplo, na América do Norte ou na Europa Ocidental, que as fábricas estão desaparecendo, mas bastou assistir aos últimos Jogos Olímpicos para constatar que elas, na verdade, só podem sair de um lugar ao migrar para outro. Pequim estava caoticamente poluída pela fumaça das chaminés de suas incontáveis fábricas, chaminés que lá se concentraram em busca de mão-de-obra farta e miseravelmente remunerada.

O simples fato de ninguém ver, especialmente nos países desenvolvidos, onde exatamente as mercadorias são produzidas não pode levar à absurda conclusão de que elas não são produzidas em lugar nenhum. Nada pode se materializar do nada nas prateleiras das lojas e dos supermercados – tudo teve que ser fabricado em algum lugar (ou em vários lugares, etapa por etapa).

Uma economia inteiramente baseada em serviços é tão possível quanto uma limonada que surge sem espremer limões, uma omelete que se frita sozinha e sem quebrar ovos. Mesmo no capitalismo financeiro mais avançado, em que o circuito dos bancos, dos empréstimos e dos juros aparece como mais lucrativo do que a fábrica, a produção continua a ser o fundamento último e inquestionável de todo o ciclo do capital.

O trabalho, o bom e velho trabalho vivo continuamente explorado pelo capital, continua vivo como sempre, sustentado com o mísero salário de sempre. E os trabalhadores de hoje, como sempre, continuam tendo muito pelo que lutar.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 06/01/2010. DIÁRIO (Dracena-SP), 10/01/2010.]

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