terça-feira, 10 de novembro de 2009

[Crítica Social] World Trade Center e USS New York

WORLD TRADE CENTER E USS NEW YORK

Têm sido notícia, na grande mídia, nos últimos dias, o novo navio de guerra da marinha dos EUA, o USS New York. Não que um navio (ou qualquer instrumento de morte e destruição) a mais à disposição da maior potência militar do mundo seja, por si só, algo a se noticiar tão insistentemente, mas o USS New York tem chamado a atenção porque parte de sua estrutura foi construída com 7,5 toneladas de aço provenientes dos escombros do World Trade Center.

Significativo constatar que, depois da tragédia de setembro de 2001, o governo norte-americano tenha utilizado o que sobrou das “torres gêmeas” de Manhattan para construir uma arma – arma que recebeu, como uma espécie de “homenagem”, precisamente o nome da cidade onde se abateu a tragédia. Significativo porque ninguém pôde pensar em nada melhor para fazer com os escombros do terror e da violência do que um instrumento de terror e violência – e assim um ciclo vicioso de agressão, militarismo e belicismo é retro-alimentado de modo a garantir a continuidade de seus repugnantes efeitos.

O ataque à Nova Iorque não foi, não sejamos ingênuos, motivado por nada. É evidente que o terrorismo não é justificável, mas é igualmente evidente que sua causa última é a violência de longa data do ocidente em geral e dos EUA em particular aos povos do oriente médio. E as “respostas” do governo norte-americano aos atentados terroristas são bem conhecidas, até porque foram transmitidas ao vivo pelas emissoras de TV. O “combate ao terror” serviu de argumento para discutíveis incursões militares no Afeganistão (em 2001) e no Iraque (em 2003) que se arrastam até o presente instante.

Em todos os casos, as derradeiras vítimas são civis, inocentes, pessoas que nada têm a ver com os conflitos em questão. Isto vale tanto para os milhares de americanos mortos em função dos ataques terroristas quanto para os milhares ou milhões de pessoas do oriente médio que já perderam a vida em função dos tiros e bombardeamentos da guerra ou da miséria, fome e perseguição decorrentes. Mas aparentemente tudo isso se esquece perante a imagem portentosa de um novo navio de guerra flutuando na costa de Nova Iorque.

Ao invés de se buscar um fim para isso, um ponto final para tamanha barbárie, o que se parece buscar é exatamente o contrário. Um navio para “homenagear” Nova Iorque e as vítimas do 11 de setembro... mas um navio de guerra, porque a única “homenagem” que se pode cogitar parece ser a da vingança. E os vingados, por sua vez, buscarão, amanhã, mais vingança. Depois de amanhã, novamente. Até quando?

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 04/11/2009. DIÁRIO (Dracena-SP), 08/11/2009.]

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