domingo, 22 de agosto de 2010

[Crítica Social] Supermercado eleitoral

SUPERMERCADO ELEITORAL

A publicidade partidária na TV aberta, com vistas às eleições de outubro próximo, acaba de começar. Isto quer dizer, noutras palavras, que o período mais acirrado da disputa eleitoral acaba de se abrir. A propaganda eleitoral, afinal, cuidará de sacramentar, em definitivo, as frações de votos de cada candidato: o que tiver que ser alterado, se é que será, até outubro, há de se realizar através dos programas de TV.

No entanto, a “linguagem” da publicidade partidária, se é que assim se pode dizer, não é a da política, não é, em primeiro plano, a da cidadania ou a da democracia. A sua “linguagem” é a linguagem própria da publicidade mercantil, da propaganda ordinária que se tornou onipresente na sociedade capitalista hodierna, da propaganda para a venda de produtos e serviços quaisquer. No fim das contas, os candidatos não são apresentados por suas ideologias políticas, por suas propostas de atuação, por suas posições diante das tantas lutas do nosso tempo – são apresentados como mercadorias à venda.

Assim como sabão em pó, carros, aparelhos eletrônicos etc., os candidatos são colocados, pela propaganda partidária, como que “à venda” – à disposição não de eleitores, não de cidadãos, mas de consumidores. Tanto quanto se cuida da “embalagem” da mercadoria, tanto quanto se constrói a “imagem” do produto, tanto quanto se promete “satisfação garantida” ao consumidor, assim também se dá a publicidade dos candidatos. Tudo se resume, então, a um grande supermercado eleitoral: os candidatos, como que dispostos em prateleiras, são escolhidos pelos eleitores em função da publicidade que previamente os convenceu, assim como as mercadorias são escolhidas, no momento da compra, pelo consumidor previamente seduzido pela publicidade.

Não se trata, porém, de uma compra. Na política há muito mais em jogo. Trata-se, afinal, do campo em que as lutas sociais devem encontrar a sua máxima expressão, através do qual o domínio de grupos sociais sobre outros se realiza, no qual tal domínio pode vir a ser revertido. Se a política se rende ao marketing mercantil, então tudo está perdido desde o princípio. Se a política se rende à circulação mercantil e ao poder da grande mídia, então a própria política, em verdade, está perdida.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 18/08/2010.]

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