domingo, 1 de agosto de 2010

[Crítica Social] Desenvolvimento e desigualdade

DESENVOLVIMENTO E DESIGUALDADE

Na última sexta-feira, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou relatório sobre o desenvolvimento humano da América Latina, região que apresenta os maiores índices de desigualdade do mundo. Sua maior novidade é uma nova metodologia de cálculo do IDH (índice de desenvolvimento humano, que varia de 0 a 1), o IDH-D, que procura computar, por meio de estatísticas ligadas a renda, educação e saúde, as conseqüências da desigualdade social. Resultado: IDH-D dos países latino-americanos foi em média 19% inferior ao IDH tradicional.

O IDH do Brasil, por exemplo, segundo dados de 2007, é de 0,777. O IDH-D, no entanto, é de 0,629. O que esta queda procura demonstrar é o quanto a desigualdade social “corrói” qualquer perspectiva de desenvolvimento. Afinal, as médias de renda per capita, de acesso à educação formal ou à saúde podem apontar um país cujos índices estão cada vez mais distantes da indigência, mas também um país que simplesmente não existe na realidade. No Brasil, como bem se sabe, a disparidade entre as camadas mais pobres e mais ricas da população brasileira em qualquer desses quesitos é enorme.

Ora, quantos IDH diferentes poderiam ser calculados aqui? Qual o tamanho da disparidade social brasileira? O IDH do Brasil mais rico seria, sem dúvida, muito próximo daquele dos países mais desenvolvidos, mas muitíssimo diferente do IDH do Brasil mais pobre. Isto porque é possível vivenciar no Brasil, quase lado a lado, a mais desmedida opulência e a mais constrangedora miséria. Numa mesma cidade, não raro, bairros caríssimos, repletos de mansões milionárias, são vizinhos de comunidades irregulares, paupérrimas, de habitações precaríssimas, carentes de água, esgoto, luz elétrica, transporte etc. Um pequeno séquito de milionários ou bilionários, cujas exigências de consumo só são satisfeitas pelo mercado de itens de luxo, convivem num mesmo país com tantos que não têm acesso sequer ao indispensável: alimento, água, moradia etc. E isto num país em que a idéia de “hierarquia social”, herdeira de tempos nobiliárquicos e senhoriais, jamais foi resolvida, em que a discriminação em função da classe social é enorme, em que questões raciais gravíssimas estão distantes de qualquer solução, em que a disparidade regional (sul-sudeste vs. norte-nordeste) é enorme...

Nenhum número, no fundo, pode dar conta da desigualdade brasileira. De todo modo, os números divulgados pela ONU sinalizam algo que, em verdade, está dado a olhos vistos na sociedade brasileira: o “desenvolvimento humano”, se aqui existe, é de alguns, não de todos.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 28/07/2010.]

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