terça-feira, 13 de outubro de 2009

[Crítica Social] "Software livre" e capitalismo

“SOFTWARE LIVRE” E CAPITALISMO

Tornou-se discurso freqüente, nos blogs e demais canais de discussão da internet, a associação entre “software livre” e alguma modalidade de crítica ao capitalismo. Ou mesmo entre “software livre” e socialismo. Há nisso algum exagero – sou plenamente favorável ao “software livre”, mas não apostaria tão alto em suas potencialidades.

Em primeiro lugar: o que é, afinal, “software livre”? Resumidamente, é todo software disponibilizado para uso em computadores pessoais de modo gratuito e sem limitações. São criados por programadores ou instituições sob licença livre e distribuídos de maneira não-comercial. Em alguns casos, chega-se mesmo a disponibilizar o código do software (“open source” ou “código aberto”) para que quem assim desejar possa alterá-lo e redistribuí-lo livremente.

De um modo geral, o “software livre” se apresenta hoje como alternativa ao software comercial mais largamente difundido e conhecido. Assim, por exemplo, ao Internet Explorer, ao Office e ao Windows da Microsoft há alternativas como o Firefox, o OpenOffice, as várias distribuições do Linux. Diversamente das opções tradicionais, que são vendidas, as alternativas podem ser baixadas, instaladas e utilizadas gratuitamente – e funcionam perfeitamente.

Tendo em vista que a distribuição gratuita é efetivamente mais democrática, penso que é interessante incentivá-la. Embora limitada em seu alcance, esta é, sim, uma atitude de crítica e, em certo sentido, até mesmo de resistência ao mundo capitalista. Só isso basta para fazer valer a pena migrar, quando possível, do software comercial para as opções abertas.

Um argumento comumente levantado em contrário apela à dificuldade de utilização oferecida pelo “software livre” ao usuário comum. Isto, no entanto, é uma falácia. Para o usuário habituado, por exemplo, com o Windows da Microsoft, o Linux parecerá, de fato, complicado – mas isto exatamente porque o usuário já está habituado a um sistema operacional e, portanto, sentirá dificuldades para lidar com qualquer outro. Tudo se resume a uma questão de adaptação. Um pouco de tempo e um pouco de boa vontade bastarão para que o usuário realize as mesmas tarefas, com a mesma (ou até maior) praticidade, com “software livre”. (Esta coluna, por exemplo, foi escrita com o processador de texto do OpenOffice rodando sobre a distribuição Sabayon do Linux).

A simples distribuição não-comercial faz, de fato, pelo menos um pouco, o mercado de software balançar. Isto já é alguma coisa. A ilusão reside em crer que isto pode, de algum modo, ameaçar a própria forma de mercadoria da tecnologia informática. Não se trata do advento do socialismo. Daí não advirá nenhuma transformação social. Mas se o “software livre” não ajudará a transformar o mundo, é certo que ao menos não irá atrapalhar.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 07/10/2009. DIÁRIO (Dracena-SP), 11/10/2009.]
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