terça-feira, 1 de setembro de 2009

[Crítica Social] Realidade social e pensamento crítico

REALIDADE SOCIAL E PENSAMENTO CRÍTICO
(...) toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação e a essência das coisas coincidissem imediatamente.
– Karl Marx
As questões sociais são, de um modo geral, encaradas de uma maneira acrítica, superficial ou mesmo preconceituosa. Não é raro ouvir ou ler, por exemplo, que existe pobreza porque “pobre não gosta de trabalhar”, que os sem-terra ou os sem-teto são “baderneiros que querem tomar a propriedade alheia” ou que a pouco significativa expressão “o brasileiro não tem cultura” explica grande parte das mazelas de nossa realidade social. Tudo isto é insuficiente e equivocado: é muito mais uma maneira de desconhecer ou de negligenciar as questões sociais e, portanto, não é compatível sequer com uma proposta séria de pensar a realidade.

É claro que as questões sociais não são questões aritméticas e, por não serem exatas, comportam análises, interpretações e visões as mais diversas. E nenhuma dessas visões pode ingenuamente clamar exclusividade ou supremacia sobre todas as demais, já que é a complexidade do próprio todo social que enseja essa multiplicidade de entendimentos. Mas é exatamente esta complexidade que põe de imediato todo entendimento abusivamente simplificador do social em irremediável descompasso com a realidade.

As visões baseadas tão-somente em moralismo, estereótipos e lugares comuns exemplificam perfeitamente um tal descompasso. São visões que nada revelam, nada explicam, apenas fazem perpetuar a alienação e, portanto, não contribuem nem para a precisão dos conhecimentos sociais nem para alteração da sociedade presente. Uma perspectiva de pensamento que se pretenda séria precisa ir além. Uma perspectiva que, mais ainda, não se resigna perante a opressão, a exploração e a indignidade da miséria e da indigência precisa ir mais longe ainda. Uma perspectiva crítica da sociedade, quero dizer, uma perspectiva que busca não apenas o conhecimento teórico e distante, mas também a transformação efetiva da realidade, precisa enfrentar as questões sociais pelas raízes, precisa buscar nas profundezas da estrutura última da sociedade as explicações para os acontecimentos sociais do dia-a-dia.

A crítica social a que pretendo dedicar esta coluna terá por fundamento esta última perspectiva. O objetivo é singelo, nada além de parar para pensar. Pensar radicalmente. Ousar questionar. Questionar eventualmente o inquestionável. Questionar e conhecer sem resignar. Conhecer para transformar. Eis as chaves para o que virá daqui por diante.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 27/08/2009. DIÁRIO (Dracena-SP), 30/08/2009.]

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