quinta-feira, 24 de setembro de 2009

[Crítica Social] H1N1 e terror

H1N1 E TERROR

A pandemia da gripe A (H1N1), outrora “gripe suína”, tornou-se uma epidemia do terror. Desde que instalado o surto de contaminação pelo novo vírus, a grande mídia parece não querer mudar de assunto, números de vítimas são divulgados a cada segundo, “dicas” de prevenção são veiculadas incessantemente etc. O resultado disso é uma atmosfera de obsessão coletiva que tomou conta da ordem do dia. Dos jornais que fizeram dos “informes” sobre a gripe A um espaço permanente de suas grades à onipresença do álcool-gel para a desinfecção das mãos, estão dadas as demonstrações de um estado de pânico social.

Não pretendo com isso dar a entender que a gripe A não deve ser levada a sério. Deve, não há dúvida. Como toda gripe, esta se espalha rapidamente e pode – como de fato tem ocorrido – levar a óbito. Assim, todos os cuidados possíveis com a prevenção e, nos casos de contaminação, toda a atenção possível ao tratamento são o mínimo – isto não pode faltar, quer por parte dos indivíduos, quer por parte das autoridades públicas.

Minha censura se dirige especificamente ao clima de pânico construído em torno da gripe A. O noticiamento exaustivo, a superexposição midiática, a preocupação governamental em demonstrar providências tomadas – nada disso é, no fim das contas, acidental. Quais os reais motivos para tanto barulho por conta da nova gripe? O que resta por detrás de tanto alarde?

Observemos com cuidado. Segundo dados oficiais divulgados pelo Ministério da Saúde no dia 2 último, foram, ao todo, até o final de agosto, 6592 casos confirmados e 657 mortes. Os números não são, é certo, insignificantes. Mas também os dados do Ministério da Saúde apontam, por exemplo, 4823 mortes por tuberculose em 2006. No mesmo ano, 2236 mortes, entre crianças de até 5 anos, por diarréia. 2798 mortes por acidentes de trabalho em 2006 e 2804 em 2007.

Ora, essas mortes, contabilizadas aos milhares, estranhamente não são noticiadas. Doenças perfeitamente curáveis matam, no Brasil, ano após ano, em volume avassalador e nem a grande mídia nem o poder público demonstram extraordinária preocupação a respeito. O trabalho continua a matar tantos e tantos trabalhadores, em geral pelo puro desleixo quanto às condições mínimas de segurança, sem que nenhuma mobilização social a respeito seja levantada.

O ostensivamente visível recobre o invisível – o que deve permanecer invisível – da sociedade. Nisto também se enquadra a situação atual da gripe A. O que se impõe, neste momento, é questionar: por quê?

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 16/09/2009. DIÁRIO (Dracena-SP), 23/09/2009.]

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