quarta-feira, 9 de novembro de 2011

[Crítica Social] Universidade e repressão – II


UNIVERSIDADE E REPRESSÃO – II

São como adolescentes mimados que querem fazer o que bem entendem sem limites.

Assim referiu-se um colunista da Folha de São Paulo aos estudantes que, desde a semana passada, ocupavam o prédio da reitoria da Universidade de São Paulo. Assim, com essas poucas palavras, com essa acusação sumária, resumiu o problema. Assim tratou de despir a questão de qualquer aspecto político, de qualquer dimensão propriamente coletiva, de qualquer significado para o debate acadêmico: tudo se explica, pensa o jornalista, por um desvio psicológico, moral, individual dos estudantes.

Providencial que o jornalista tenha publicado a sua coluna apenas algumas horas depois da ação da polícia militar que, pela força, expulsou os estudantes do edifício. Providencial e, diga-se, com certa aparência de “comemoração” pelo ocorrido. Esta “comemoração” que, na verdade, aparece agora em toda a grande mídia – em conjunto, como era de se esperar, com uma verdadeira campanha para denegrir os estudantes que protestavam, para reduzi-los a meros “baderneiros” e, portanto, para insistir no caráter individual, não político, do protesto.

É provável, contudo, que nem mesmo uma palavra seja dedicada por esta mesma grande mídia à questão fundamental: o absurdo da violência, da repressão, da ação armada perpetrada pelo Estado contra um movimento de estudantes. O absurdo, mais ainda, da redução, pelo governo do estado e pela reitoria da universidade, do movimento estudantil a “questão de polícia” – e a completa falta de pudor (típica, aliás, de regimes políticos de ultradireita) em recorrer à força aberta para a “solução” da questão.

Note-se que as notícias inicialmente vinculadas “orgulhosamente” dão conta de uma ação policial que envolveu mais de 400 membros da tropa de choque, devidamente protegidos atrás de seus escudos e armados com cassetetes e escopetas com balas de borracha, além de outros grupos da polícia e de dois helicópteros. Sim, mais de 400 policiais armados e dois helicópteros contra um grupo de estudantes desarmados. A desproporção de forças é mais do que evidente – mas isto nenhum veículo de imprensa parece pretender destacar.

O que se pode observar é um quadro nada animador. Com apoio da imprensa e (o que é pior) com aplauso de grande parte da população, inclusive de grande parte da comunidade uspiana, a universidade tornar-se um espaço sob controle da polícia. Protestos e manifestações dos estudantes são reprimidos pela força, ao máximo. Resta esperar que esses não sejam os primeiros passos numa escalada reacionária para um terror muito maior...

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 09/11/2011.]

Um comentário:

Caio Vilela disse...

professor, sou o Caio, do 1 ano B da FACAMP. Fiz um texto sobre o filme que te falei semana passada, "O preço do amanhã". se quiser, dê uma olhada.. http://caiohvilela.blogspot.com/2011/11/medidas.html