tag:blogger.com,1999:blog-33851750932621805502024-03-13T19:26:13.158-03:00— Hawatari —CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.comBlogger216125tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-55188018671647347672020-03-30T22:09:00.001-03:002020-03-30T22:09:22.658-03:00Discurso: Tempos particularmente sombrios<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>TEMPOS PARTICULARMENTE SOMBRIOS</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Recebi com grande honra o convite para ser paraninfo da turma. É, para mim, uma honra adicional falar deste mesmo púlpito para o qual vocês escolheram o Isaac para falar como orador da turma. O convite, no entanto, é inusitado: não é nada comum que o professor de Filosofia do direito seja convidado para ser paraninfo de uma turma de Direito. Imagino que essa escolha incomum tenha sido objeto de uma votação da turma e reputo que meus eleitores tenham sido movidos por duas razões, na verdade dois pequenos anseios sádicos. Em primeiro lugar, o desejo de assistir ao meu constrangimento dentro de um terno – logo eu, que sempre fiz piada com esse <i>cosplay </i>habitual dos juristas. Em segundo lugar, o desejo de assistir ao meu constrangimento ao fazer um discurso – logo eu, sem um texto, sem um programa de curso, sem citar Kelsen ou Kant, Pachukanis ou Marx. Pois bem, satisfaço agora a esses dois anseios.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Imagino que, se fui escolhido paraninfo, a turma não espera um discurso otimista e edificante sobre o futuro brilhante que lhes aguarda já na próxima esquina. Haveria outros nomes muito melhores para isso. Também aqui, satisfaço aos seus anseios. Fui professor de vocês por vários anos e, nessa condição, permitam que eu compartilhe com vocês uma última e nada otimista reflexão.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Vivemos tempos particularmente sombrios. Esse diagnóstico do presente é de tal maneira forte que podemos concordar com ele ainda que discordemos das razões políticas – porque eu não falo do coronavírus ou da sexta-feira 13 – que causam essa situação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Nesses tempos, não podemos antever um futuro brilhante, simples, ao alcance. Acredito que vocês tiveram a formação </span><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">técnica</span><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> </span><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">necessária para enfrentar os desafios do mercado de trabalho, da carreira. Pais, mães! Suas filhas e seus filhos estão preparados para esses desafios, cobrem e acreditem neles! Mas não tenham ilusões: não será nada fácil.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mas também nesses tempos, outros desafios, para além da carreira, são colocados de maneira excepcional. O grande desafio dos tempos sombrios é sair deles – e vocês são a geração a quem coube essa grande tarefa. Esse desafio exige algo para além da formação jurídica técnica, exige um espírito crítico, uma atitude inconformada e inspirada por um projeto de sociedade menos desigual, mais solidária e sem opressão. Imagino que também nesses valores vocês receberam a formação necessária e quero crer que tive uma pequena parte nisso – e que, se há uma razão não sádica para a minha escolha como paraninfo, que seja esta.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Crianças! E eu me dirijo a vocês como crianças pela última vez: juristas é o que vocês são agora. Crianças, é hora de crescer! Cresçam! Cresçam como profissionais, alcancem os postos que almejam nas suas carreiras. Essa é uma turma excepcional, a melhor turma para a qual já pude lecionar, vocês são capazes. Mas cresçam, também, em outro sentido. Nesses tempos sombrios, sejam as mulheres e os homens de que o mundo precisa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Discurso proferido em 13/03/2020, por ocasião da formatura da turma 2019 do curso de Direito das Faculdades de Campinas/FACAMP. Reproduzo aqui, de memória, a minha fala, portanto certamente com omissões e imprecisões.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-31506964677604484892017-12-14T11:29:00.001-02:002017-12-14T11:29:54.266-02:00A morte e a morte de Evgeni Pachukanis<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>A MORTE E A MORTE DE EVGENI PACHUKANIS</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">No ano do centenário da Revolução Russa, Pachukanis foi lembrado. Sua principal obra, <i>A teoria geral do direito e o marxismo</i>, teve, certamente não por acaso, depois de um hiato de 28 anos, duas traduções lançadas quase que simultaneamente nos últimos meses (a primorosa edição da Sundermann inclui ainda textos anteriormente inéditos em português).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É conveniente que assim seja: o texto de Pachukanis é o núcleo de todo o pensamento marxista sobre o direito e é, portanto, imperioso que ele esteja acessível e que seja levado em consideração. Mas Pachukanis é um jurista maldito, aparentemente condenado a ser esquecido, e mesmo a sua “lembrança”, qualquer que seja a ocasião, não é de todo algo a comemorar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Lembremos, antes de tudo, que Pachukanis foi morto. Um certo destino trágico dos revolucionários, aquele de ser ceifados por suas próprias revoluções, não o poupou. Trágica e contraditoriamente, o caráter revolucionário da sua obra, a radicalidade de seus argumentos, o peso e a justeza de suas conclusões foram determinantes para a sua morte. E isso deve nos lembrar, por sua vez, dos equívocos da Revolução Russa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A eliminação da figura de Pachukanis foi seguida, na URSS, da proibição de sua obra. Apenas décadas depois, reabilitada, voltou a circular. Seu percurso por entre os debates teóricos desde então foi e tem sido, para dizer o mínimo, errático. Pouco lida, pouco compreendida, muito raramente levada a sério, a obra de Pachukanis parece presa em algum limbo entre duas rejeições: para os marxistas, trata-se de uma obra “jurídica” que, por consequência, é indevidamente descartada de todos os grandes debates e, de outro lado, para os juristas, trata-se de uma obra marxista e isto, por si só, obstrui qualquer acesso ao ambiente essencialmente conservador e pouco dado à reflexão que constitui, no mais das vezes, os cursos de direito. A retomada de sua obra, porém, não rompe necessariamente com esse quadro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A morte de Pachukanis parece não cessar. Nesse mesmo ano em que completam-se 100 anos da Revolução Russa, completam-se 80 desse lamentável episódio. Nesses 80 anos, Pachukanis continuou a ser morto e continua – diria que mais intensamente, se é que isto é possível – ainda agora.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Pachukanis continua a ser morto quando sua obra é retomada por uma série de leituras tortas, falseadoras, impacientes ou pouco inteligentes. Quando, por incompreensão ou deturpação consciente, a sua obra é tomada apenas parcialmente, equivocadamente, distorcidamente, enfim, é tomada por aquilo que ela não é.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Pachukanis continua a ser morto quando sua obra é retomada apenas para ser declarada, mais uma (e provavelmente não a última) vez, dentre tantas e tantas vezes, como “superada”. Quando os mesmos velhos motivos para tal “superação” são reciclados e, sob qualquer roupagem dita nova, apresentados novamente sem demonstração. Quando uma mera declaração de intenções por uma refundação, renovação, reformulação, renascimento etc. do marxismo ou da crítica marxista do direito exige – sem demonstração, insisto – que é necessário negar, esquecer ou ir além de Pachukanis. E isto sempre, qualquer que seja a “novidade” da vez, pelo mesmo velho motivo: na impossibilidade de desmontar ou contradizer o argumento de Pachukanis – e, portanto, de demonstrar a sua “superação” – é necessário, para livrar-se, por conveniência, de suas conclusões – em última medida, invariavelmente, a questão da extinção do direito e do Estado – dizê-lo “superado”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Pachukanis continua a ser morto quando sua obra é retomada apenas para que a façam dizer aquilo que ela não diz. Quando, por alguma “adaptação” “criativa” ou puramente falseadora, por uma leitura tosca ou por má consciência, a crítica essencialmente radical de Pachukanis é indevidamente mitigada. Quando Pachukanis é, então, retratado como defensor, em qualquer medida que seja, do direito (ainda de que um direito “melhorado”, “alternativo”, “socialista” ou o que o valha) e, portanto, é reconciliado com algum modelo qualquer de reformismo. Como nenhum reformismo pode declarar-se como tal, essas “adaptações” têm que ser sempre sub-reptícias, têm de pautar-se sempre no mesmo recurso de apresentar um Pachukanis que não existe. Mas não pode haver algo – e não há outras palavras para dizê-lo – mais frontalmente contrário àquilo que Pachukanis propõe do que a conciliação ou mesmo a tolerância com o reformismo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Por fim, Pachukanis continua a ser morto quando sua obra é retomada apenas como “escada” para promover outras ideias, outras teorias, em geral alheias, ou mesmo contrárias, ao próprio Pachukanis. Em última medida, quando o nome de Pachukanis é usado para promover egos nesse enorme turbilhão de vaidades que é o meio acadêmico brasileiro. Numa sociedade capitalista (ou mesmo capitalista de Estado, como o próprio descobriu tristemente), ninguém que, a rigor, defenda as teses de Pachukanis há de beneficiar-se, em qualquer grau, disso. No pequeno universo da academia (ao menos no campo do direito, não saberia dizer se o mesmo se aplica a outras áreas), porém, apropriar-se de um autor e tornar-se seu “representante oficial”, sua “voz autorizada”, pode ser muito vantajoso como forma de autopropaganda – mesmo quando a “voz autorizada” propaga algo muito ou muitíssimo diverso da sua suposta fonte autorizadora.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O esforço por cavar a sepultura de Pachukanis não cessa: para nela atirá-lo ou para dela tirá-lo, de novo e de novo. Pois Pachukanis não cessa de ser morto – ou, a rigor, de ser sepultado vivo. A despeito de todo o empenho contrário, sua obra permanece de pé. Seus argumentos mantêm pleno vigor. O que se retira de sua sepultura não é, portanto, apenas o seu cadáver. E tudo que posso esperar é que continue havendo, na contramão de tudo, aqueles com disposição para fazê-lo.</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-67644928506380302112017-10-22T21:49:00.000-02:002017-10-22T21:50:00.002-02:00[jabá] lançamento das Edições Lado Esquerdo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguuU4YaL6TtVgHROIfjRNRpJh9lsUKN82M_dXWEgt9jJPGJX6s-0TiHpWC2r_mfK3lofpBP7HvKBBNNVhm4Ml-w33cgnJNEbkPt37aOABFeE6F3tglAsAGNrRYvQ-a2dMCWJP6OEdKlg/s1600/convite.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1000" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguuU4YaL6TtVgHROIfjRNRpJh9lsUKN82M_dXWEgt9jJPGJX6s-0TiHpWC2r_mfK3lofpBP7HvKBBNNVhm4Ml-w33cgnJNEbkPt37aOABFeE6F3tglAsAGNrRYvQ-a2dMCWJP6OEdKlg/s640/convite.png" width="640" /></a></div>
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mais informações: <a href="https://www.facebook.com/lado.esquerdo.14" target="_blank">https://www.facebook.com/lado.esquerdo.14</a></span>CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-79375287304453180102016-12-16T16:12:00.000-02:002016-12-16T16:12:13.787-02:00Para Tarso de Melo<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Ao amigo poeta, minha homenagem... Eu, que não sou poeta, que não poderia homenagear ninguém (mas apenas constranger) com poesia minha, escolho um camarada muito mais competente para falar por mim – o camarada Brecht:</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>VOU LHES DIZER</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eu me dizia: pra que falar com eles? </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Se compram o saber, é pra revendê-lo. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O que querem, é encontrar o saber bem barato </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Para que eles possam revendê-lo com lucro. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Então por quê eles quereriam saber daquilo que vai </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">contra a lei da oferta e da procura?</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eles querem vencer, e não se interessam </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">por aquilo que prejudica a vitória. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eles não querem ser oprimidos, </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">querem oprimir. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eles não querem o progresso, </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">querem ser os primeiros.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eles se submetem a qualquer coisa, contanto </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">que se lhes prometa que eles farão a lei. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eles se sacrificam </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">pra que não se ponha abaixo </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">o altar dos sacrifícios.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eu pensei: o que eu vou dizer a eles? </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E depois decidi: é isso que eu vou dizer.</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-15238133587655512062015-12-09T00:08:00.000-02:002015-12-09T00:10:36.900-02:00[jabá] "Para a crítica do direito" à venda na Livraria Expressão Popular<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7ILFXdRVbMOD5_mCr3HGniym5XuTJAEBBGpcDsKwZMvQTObBskCq4rCfOAGViYarpSWFp541tduj7ENqS7rtpDR4i2-IuFRBt1Hz67NBuK4aSVkS_tQoyYaH_PELRuKLXOM5D_DK7Fg/s1600/para_a_critica_do_direito.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7ILFXdRVbMOD5_mCr3HGniym5XuTJAEBBGpcDsKwZMvQTObBskCq4rCfOAGViYarpSWFp541tduj7ENqS7rtpDR4i2-IuFRBt1Hz67NBuK4aSVkS_tQoyYaH_PELRuKLXOM5D_DK7Fg/s400/para_a_critica_do_direito.png" width="268" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">“</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Para a crítica do direito: reflexões sobre teorias e práticas jurídicas</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">”</span></b><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> já está à venda na Livraria Expressão Popular (<a href="https://goo.gl/maps/LxmUg7vD2Dr" target="_blank">Rua da Abolição, 201, São Paulo-SP</a> – tel. (11) 3105-9500) e pelo site:</span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><a href="https://www.expressaopopular.com.br/node/9584" target="_blank">https://www.expressaopopular.com.br/node/9584</a></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>__________________________________________________</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>SUMÁRIO</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">PARTE I – TEORIAS</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Determinação social e vontade jurídica</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Alaôr Caffé Alves)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Direito, capitalismo e estado: da leitura marxista do direito</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Alysson Leandro Mascaro)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Apontamentos para uma crítica marxista da subjetividade moral </i></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>e da subjetividade jurídica</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Celso Naoto Kashiura Jr.)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>E Têmis alçou o voo de Ícaro: ensaio sobre a justiça e a realidade</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">José Antonio Siqueira Pontes)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>“Diante da lei”: Versão corrigida e atualizada do célebre texto </i></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>de Franz Kafka</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">José Rodrigo Rodriguez)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Direito Insurgente: (des)uso tático do direito</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Luiz Otávio Ribas e Ricardo Prestes Pazello)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>A “ilusão da jurisprudência”</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Márcio Bilharinho Naves)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Dogmática jurídica: um olhar marxista</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Marcus Orione Gonçalves Correia)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Luta de classes e forma jurídica: apontamentos</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Oswaldo Akamine Jr.)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Ideologia e ideologia jurídica</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Pedro Eduardo Zini Davoglio)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Criminologia crítica: dimensões, significados e perspectivas atuais</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Salo de Carvalho)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Ideologia jurídica e capital portador de juros: apontamentos </i></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>para estudos iniciai</i>s (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Vinícius Casalino)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>O que é crítica ao direito?</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Vitor Bartoletti Sartori)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">PARTE II – TRABALHO</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Terceirização e luta de classes</i> (Ana Carolina Bianchi Rocha Cuevas Marques, Gabriel Franco da Rosa Lopes e Paulo de Carvalho Yamamoto)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Estado, economia e ideologia jurídica: crítica à dicotomia direito público/privado </i><i>e seus reflexos no direito do trabalho</i> (Camilo Onoda L. Caldas)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Coerção e liberdade formal na escravidão contemporânea: conceitos em disputa</i> (Giselle Sakamoto Souza Vianna)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Direito e desmobilização dos trabalhadores (ou sobre uma estratégia do salame)</i> (Gustavo Seferian Scheffer Machado)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Impactos da tecnologia no mundo do trabalho, no direito e na vida do juiz</i> (Jorge Luiz Souto Maior)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Trabalho das mulheres e feminismo: uma abordagem de gênero </i><i>do direito do trabalho</i> (Regina Stela Corrêa Vieira)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Estratégias jurídicas para o controle estatal dos sindicatos no Brasil</i> (Thiago Barison de Oliveira)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">PARTE III – LUTAS</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>As lutas emancipatórias das mulheres no capitalismo e o feminismo</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Alessandra Devulsky da Silva Tisescu)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Por uma leitura crítica das “ideologias verdes”</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ariani Bueno Sudatti)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Cidadania, política e direito na proteção do comum: uma análise a partir </i></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>dos “ocupas” no Brasil desde junho de 2013</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Enzo Bello, Rene José Keller e Ricardo Nery Falbo)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Os limites do bem-estar no Brasil</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Flávio Roberto Batista)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>As elites jurídicas e a democratização da justiça </i>(</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Frederico de Almeida)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Dos limites do ativismo judicial na concessão de direitos fundamentais </i></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>(ou sobre a hercúlea função de enxugar gelo)</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Josué Mastrodi)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>A criminalização dos movimentos sociais na perspectiva marxista</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Pablo Biondi)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Justiça de transição e o fundamento nos direitos humanos: perplexidades </i></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>do relatório da comissão nacional da verdade brasileira</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Pádua Fernandes)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Estado, direito e análise materialista do racismo</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Silvio Luiz de Almeida)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Direito e lutas sociais: a crítica jurídica marxista entre ambiguidade e resistência</i> (</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Tarso de Melo)</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-20091731107252276682015-11-20T16:48:00.000-02:002015-11-20T16:48:40.186-02:00[jabá] Lançamento: "Para a crítica do direito: reflexões sobre teorias e práticas jurídicas"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg80jiacwKBLFgTCosxhdX11VarXOZ6zt3WGqjzWL_Es09qw6yP43I0LuY40LkCtNrQOTN9Ckb8lScjq5JGG1O1o4RWIxN68R1lSgN8vZQUeZzM7euse20rIMk_yjGIWhf0OC0Zwtf6XA/s1600/lan%25C3%25A7amento3%2527%2527.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="448" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg80jiacwKBLFgTCosxhdX11VarXOZ6zt3WGqjzWL_Es09qw6yP43I0LuY40LkCtNrQOTN9Ckb8lScjq5JGG1O1o4RWIxN68R1lSgN8vZQUeZzM7euse20rIMk_yjGIWhf0OC0Zwtf6XA/s640/lan%25C3%25A7amento3%2527%2527.jpg" width="640" /></a></div>
<br />CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-54735247914346949992015-10-30T08:55:00.000-02:002015-10-30T08:55:00.082-02:00sem resposta – 2 – Annatar, Gorthaur, Mairon, Sauron<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/AbOdvJkMt0E/0.jpg" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/AbOdvJkMt0E?feature=player_embedded" width="480"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: x-small;"><i>(Com agradecimentos aos amigos Júlio Criscimani e Thiago Pierotti,</i></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>por quem eu, como Théoden, reuniria até o último </i></span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">dos cavaleiros de Rohan.)</i></span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A vida tem certas constantes, como opções políticas e preferências literárias. Confrontando essas opções e essas preferências, há anos tenho me perguntado: <i>como é possível que um marxista goste da obra literária de um Tolkien?</i></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A pergunta talvez soe estranha para um marxista menos informado (sobre o gênero literário fantasia) ou para um leitor de Tolkien menos atento (à política e à história), mas ela se coloca com evidência incontornável quanto um olhar marxista se encontra com o texto da narrativa fantástica de Tolkien. E se coloca com um choque. Um olhar marxista, crítico, “de esquerda” não pode evitar notar que o substrato político da narrativa de Tolkien é “de direita”, conservador, talvez reacionário – e o marxista por trás desse olhar não pode evitar a surpresa (e uma certa autocrítica) por discordar dessa política em segundo plano enquanto aprecia a narrativa em primeiro.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Como, pergunto-me e pergunto a qualquer leitor de Tolkien, não torcer pelo sucesso da Companhia do Anel, desde a sua partida de Rivendell, em sua dupla missão: destruir o Anel e levar de volta o herdeiro perdido até Minas Tirith? Como não torcer por Frodo e Aragorn – e por Gandalf, que nos faz crer que toda a esperança da Terra-Média reside no sucesso desses dois personagens? Mas, ora, o que significam Frodo e Aragorn? Em que consistem as esperanças da Terra-Média personificadas em Gandalf? Consistem, deve responder o marxista (inclusive para si mesmo), na manutenção do <i>status quo</i>, manutenção de uma hierarquia social de tipo estamental e dos valores tradicionais da família, da religião e da nobreza. A destruição do Anel é a destruição da única força capaz de colocar em risco a perpetuação desse estado de coisas. Essa força corresponde precisamente ao <i>Senhor dos Anéis</i>, Sauron, que congrega (embora dependa do Anel para fazê-lo plenamente) o que há de mais baixo na hierarquia social da Terra-Média – os <i>orcs</i>, os homens que se afastaram da tradição e da religião dos <i>Valar</i>, os estrangeiros e “bárbaros” do leste (que se opõem, num eurocentrismo atroz, à “civilização” do oeste). E Tolkien identifica o mais baixo da hierarquia social imediatamente com o feio, o sujo, o ignorante – em última medida, com o “mal” que se opõe ao “bem”, ao único “bem”, que consiste na ordem estabelecida pela civilização ocidental dos elfos e do “melhor” dentre os homens.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">No movimento próprio dessa narrativa, destruir o Anel não implica qualquer transformação. Implica, ao contrário, bloquear a única possibilidade real de transformação: apagar o olho flamejante que, do oriente, observa atento, enquanto se articula para o ataque, ao que se passa nas terras do oeste. Implica, noutras palavras, dar cabo à simples possibilidade da transformação, à simples possibilidade do “novo”. E, cumprida a parte de Frodo, a garantia final contra qualquer irrupção do “novo” reside em Aragorn, isto é, na restauração da casa dinástica da monarquia de Gondor, tão habilmente representada por Tolkien na dupla metáfora da reforja da espada quebrada da linhagem de Númenor (a “chama do oeste”) e dos poderes curativos do herdeiro de sangue (“the hands of the king are the hands of a healer”). Nobreza, linhagem, pureza de sangue, tudo se sintetiza em Aragorn, cuja árvore genealógica, delineada com cuidado quase obsessivo, é exemplar: todas as casas nobres de elfos e homens, desde o primórdio dos tempos, convergem numa única figura. E percebemos, então, o porquê – aristocraticamente, a sua genealogia deve estar à altura de sua tarefa: restaurar uma antiga glória, “purificar” a corrupção dos reinos numenoreanos na Terra-Média, corrupção que, não por acaso, tem início quando os herdeiros de Arnor questionam a sagrada primogenitura, fracionando o reino, e quando a linhagem de Gondor enfraquece a sagrada nobreza de seu sangue, misturando-o a outros menos nobres. Aragorn triunfa, restaura a monarquia, reunifica os reinos do norte e do sul e, assim, reafirma a sua – <i>justa</i>, diria Tolkien – suserania sobre toda a Terra-Média. Na leitura regressiva da história – que vê o presente e o futuro como contínua decadência frente ao passado glorioso – e na leitura reacionária da política – que defende abertamente o retorno ao passado como alternativa – que subjazem a toda obra de Tolkien, não pode haver melhor desfecho.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Como, no mais, não vibrar com Fingolfin, cavalgando sozinho para enfrentar o inimigo invencível – a personificação do “mal” anterior a Sauron e, como toda “anterioridade” em Tolkien, mais forte, mais nobre, maior – depois da Batalha das Chamas Repentinas? Mas é impossível negligenciar, numa leitura crítica, que Fingolfin personifica algo estranho ao presente e que, portanto, a sua batalha e a sua morte louvam, uma vez mais, o passado. E qual passado? Fingolfin encarna, no máximo possível, os valores da bravura e da honra, valores típicos da nobreza guerreira do mundo feudal. Diante da derrota, ele prefere a morte honrada a reinar sobre nada. Seu desfecho espelha algo profundamente estranho ao indivíduo da sociedade capitalista – tudo que lhe importa é a honra e seu sacrifício é certamente honroso, mas não produz nada, não gera qualquer resultado, qualquer proveito. A </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">“aliança derradeira de homens e elfos”</span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> não pode, afinal, derrotar o inimigo – Morgoth é um <i>Vala</i>, pertence a um <i>status </i>superior mesmo àquele dos elfos de linhagem mais elevada e (para Tolkien) o <i>status</i> simplesmente não pode ser subvertido. A “solução” pode advir apenas da intervenção dos próprios <i>Valar</i>, isto é, da intervenção divina – e isto só ocorre, no final do <i>Silmarillion</i>, por meio da submissão integral de elfos e homens, diante do pedido de misericórdia, deixando de lado o orgulho e todas as ambições profanas, no melhor espírito cristão. Exatamente como no mundo feudal, toda a ordem social se fundamenta e se entende a partir da religião. A hierarquia social se define da divindade para baixo: “<i>omnis potestas a deo</i>” ou <i>Valar </i>ou <i>Eru</i>. Tudo aquilo que diz respeito a essa hierarquia é, portanto, sagrado.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Tolkien assim define o gênero fantasia como escapismo, como projeção para fora do presente, e, ao mesmo tempo, define tal projeção como inócua: ao olhar para trás, ela assume sua impotência, assume como única saída a regressão. Quando essa fantasia se encontra com o desajuste do leitor diante do presente, a sua expressão tende a ser conservadora. Nesse sentido, a fantasia de Tolkien é mesmo uma fantasia <i>medieval</i>, na medida em que é para o modelo feudal de sociedade que Tolkien volta o seu olhar. É esse modelo de sociedade que todo o universo de <i>O senhor dos anéis</i> e de <i>O silmarillion</i> reproduz – ao que me parece, com competência – e louva.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Exemplar, a esse respeito, é a relação entre Rohan e Gondor, os dois principais reinos do oeste no momento do último confronto com Sauron. Embora Rohan seja um reino independente e, portanto, não seja formalmente vassalo, a sua relação com Gondor é claramente de dependência e de submissão. Na “sagrada” ordem natural das coisas, é absolutamente necessário que assim seja: ainda que decadente, Gondor é um reino numenoreano, seu <i>status </i>é superior, enquanto Rohan é um reino de “<i>middle men</i>”, talvez o melhor possível para um reino de homens “inferiores”, mas ainda assim inferiores. (Essa diferença de <i>status </i>se manifesta inclusive biologicamente: os gondorianos são mais belos e tem um tempo médio de vida várias vezes superior ao dos rohirrim.) Rohan, de fato, nasceu do enfeudamento cedido pelos gondorianos e tornou-se reino independente como recompensa dos gondorianos pela ajuda recebida em batalha: sob uma condição, a promessa perpétua de ajuda futura em batalha. Ora, a promessa de ajuda em batalha constitui precisamente um dos bastiões do laço entre suserano e vassalo no mundo feudal, um dos pilares da relação de dependência pessoal entre senhores de níveis hierárquicos diversos. Trata-se, no ideário feudal, da honra pessoal do senhor que está em questão: é seu dever de honra enviar seus exércitos para lutar ao lado dos exércitos do seu suserano. A “flecha vermelha”, que a adaptação para o cinema substituiu por uma linha de faróis, é o símbolo dessa promessa.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Aqui, aliás, está situada uma das diferenças mais significativas entre os livros e os filmes de <i>O senhor dos anéis</i>. No texto de Tolkien, Théoden, rei de Rohan, logo depois da Batalha do Abismo de Helm, reúne o que restou de seus cavaleiros e, por conta própria, marcha para Minas Tirith, para auxiliar Gondor diante do ataque iminente. Théoden não espera pelo chamado de Gondor – ele já está em marcha quando encontra o mensageiro portador da flecha vermelha. A vitória no Abismo de Helm foi por pouco, seus exércitos mal puderam se recuperar, suas forças estão seriamente debilitadas, mas ainda assim Théoden, sem um momento qualquer de dúvida ou hesitação, deixa o seu próprio reino e marcha para Gondor. É a sua honra que prepondera, acima de qualquer outro fator. E quando Théoden é derrotado por um dos <i>nazgul </i>diante da muralha de Minas Tirith, Tolkien retrata a sua morte como gloriosa: porque ele morre cumprindo o seu dever de honra e porque ele morre lutando por homens de um escalão muito superior ao dele próprio. No filme, porém, encerrada a Batalha do Abismo de Helm, os rohirrim se reagrupam em Edoras e Théoden aguarda. Sua atitude inicial é negativa: “O que devemos a Gondor? Por que deveríamos ajudar Gondor se Gondor não nos ajudou?” Théoden tem que ser convencido a mudar de posição, o que só ocorre com a efetiva chegada do pedido de ajuda de Gondor e diante da figura questionadora de Aragorn (que, a essa altura, o rei de Rohan já sabe ser o legítimo herdeiro da linhagem numenoreana). Mas essa atitude distorce o movimento próprio da narrativa de Tolkien. O Théoden da adaptação para o cinema faz, como um indivíduo da sociedade moderna, um cálculo. Esse indivíduo calculador pressupõe, no entanto, a própria sociedade moderna como sua condição de possibilidade. É como se, deslocado anacronicamente, tivéssemos o <i>homo oeconomicus</i> burguês como rei de Rohan, decidindo prestar ou não auxílio a Gondor, pensando como homem do mundo capitalista em pleno mundo feudal. O Théoden de Tolkien não é esse homem: movido pela honra, como típica idealização do nobre feudal, esse cálculo sequer lhe ocorre.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A única notável exceção ao rigor do medievalismo de Tolkien é, talvez, o protagonismo dos <i>hobbits </i>em sua narrativa. Os <i>hobbits </i>são, afinal, as criaturas mais frágeis de todo o universo de Tolkien – e é justamente aos <i>hobbits </i>que cabe a mais difícil de todas as tarefas: “salvar o mundo”, entrando secretamente em Mordor e atirando o Anel nas chamas da Montanha da Perdição. Esse papel tem, é claro, as suas razões. Ele é “herdado” de <i>O hobbit</i>, originalmente uma história infantil, cujo protagonista é Bilbo Baggins– e é digno de nota que os <i>hobbits </i>estejam ausentes de <i>O silmarillion</i>, o texto mais “sério” e “adulto” de Tolkien. No interior da narrativa de <i>O senhor dos anéis</i>, a justificativa para o protagonismo dos hobbits é dada por suas qualidades peculiares: a inocência, a simplicidade, a leveza de espírito e a ausência de ambição fazem com que os efeitos do Anel sejam particularmente reduzidos neles (razão pela qual Bilbo pode ser o portador do Anel por tanto tempo e Frodo pode resistir até o momento derradeiro sem se corromper). Mas aqui podemos perceber, nas entrelinhas, que, se os <i>hobbits </i>representam alguma exceção, esta exceção é ainda parcial. As suas virtudes peculiares, ainda que soem destoantes, são virtudes tipicamente cristãs. E, junto com elas, uma outra virtude tipicamente cristã opera silenciosamente – e esta talvez seja mesmo a virtude principal dos <i>hobbits</i>, superior a qualquer outra. Dentre todas as criaturas da Terra-Média, os <i>hobbits </i>são aqueles que parecem mais “acomodados” ao lugar a eles determinado na ordem social. A ausência de ambição que os afasta da sedução do Anel é, na verdade, a ausência de qualquer pretensão a um poder ou a um <i>status </i>superiores àqueles que lhes correspondem em vista de sua posição, de seu “sangue”, de sua origem. Assim, a impotência da fantasia de Tolkien se reafirma no final, mesmo quando a sua narrativa parece “dar voz” aos mais fracos: aqueles que ganham a projeção aparentemente menos proporcional ao seu <i>status </i>são, ao mesmo tempo, aqueles que demonstram a maior resignação diante do próprio <i>status</i>. O caráter sagrado do <i>status </i>triunfa mesmo quando a menor das criaturas cumpre o maior de todos os feitos.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Então, eis ainda a pergunta que permanece: <i>como é possível que um marxista goste da obra literária de um Tolkien?</i> A minha longa digressão, claro está agora, não ofereceu qualquer resposta: ela apenas registra a agonia da falta de resposta. E já não posso alegar, a essa altura, que não sei o que estou fazendo... Mas ainda gosto da obra de Tolkien e ainda a reprovo...</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-76731950488317283882015-10-28T05:55:00.000-02:002015-10-29T15:56:41.797-02:00sem resposta – 1 – Belzebu, Cabeça de Morcego, Mochila de Criança, Sete Peles<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/4myZO7n1ncQ/0.jpg" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/4myZO7n1ncQ?feature=player_embedded" width="480"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A vida tem certos movimentos estranhos e desdobramentos imprevisíveis. Confrontando esses movimentos e esses desdobramentos, há dias tenho me perguntado: <i>o que faz com que os cristãos tenham tanto medo do satanismo?</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ora, o satanista (ao menos a princípio, pois parece haver vários “satanismos” e eu não seria minimamente capaz de dissecar as suas especificidades) crê (considerando, portanto, o satanismo como religião) no mesmo conjunto de mitos em que crê o cristão. O satanista prefere, é verdade, o “outro lado” – mas esse “outro”, o “negativo”, só pode se constituir a partir do reconhecimento do “original”, o “positivo”, em que supostamente se coloca o cristão.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Satanista e cristão compartilham, assim, o mesmo campo de jogo, aceitam as mesmas regras de jogo etc., embora se coloquem em “lados” opostos. Isto significa, noutras palavras, que o satanista não questiona propriamente a crença do cristão – eles compartilham a crença, embora tomem partidos diversos diante dela. Logo, o satanismo não é propriamente a “negação” do cristianismo, não é o seu contrário: para usar uma metáfora célebre e equivocada noutro lugar, o satanismo é o cristianismo invertido e colocado finalmente sobre seus pés.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Cristãos não têm, portanto, qualquer motivo autêntico para temer os satanistas. E vice-versa. A rigor, ambos deveriam mesmo temer os ateus...</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-76487543052666623902015-03-17T23:13:00.001-03:002015-03-17T23:13:42.047-03:00[surtos e paranóias] “A nossa bandeira jamais será vermelha”<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>“A NOSSA BANDEIRA JAMAIS SERÁ VERMELHA”</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Dentre os vários (e confusos e inconsequentes) brados da manifestação do último domingo em São Paulo destaca-se este singular “a nossa bandeira jamais será vermelha”. Entre as vozes por trás do brado, informa a (suspeita?) “coluna social” da </span><a href="http://folha.com/no1603792" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;" target="_blank">FSP</a><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">, familiares de banqueiros, socialites, empresários etc.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ora, por mais que a grande mídia e os articuladores da manifestação procurem negar (e o que poderia fazer senão negar?), a manifestação tem evidentemente um caráter <i>de classe</i>. E, por mais que a grande mídia e os articuladores da manifestação não possam colocar isso em questão, nada poderia ser mais natural à classe dominante do que essa profunda recusa pela “bandeira vermelha”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A bandeira vermelha significa, afinal, o contrário do que naturalmente se pode esperar que uma classe dominante aspire. As diversas vertentes que tomam o vermelho como símbolo têm em comum – ainda que em extensões e por meios muito diversos – a oposição à classe dominante: desde o vermelho do marxismo e do comunismo, radical e revolucionário, até o vermelho ameno, por vezes misturado a outras cores, dos partidos políticos que aceitam o “jogo” democrático da sociedade burguesa e propõe não mais do que uma distribuição de renda menos absurda.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O vermelho da bandeira do PT está muito desbotado – e já há bastante tempo. E, não, não vou me submeter ao inusitado de fazer a defesa do PT aqui, nem mesmo uma defesa “estratégica”: a verdade é que, ao longo dos últimos 12 anos, o “incômodo” causado pelo PT à classe dominante brasileira foi muito pouco significativo, muito menos do que outros vermelhos mais radicais, como eu, poderiam esperar. Mas “pouco” já é demais para quem se acostumou a ter “tudo”: a inclusão de uma parcela considerável da população brasileira – parcela que a ação do Estado brasileiro sempre sabotou ou, na “melhor” das hipóteses, negligenciou – no universo do consumo já é desaforo demais para esse público de “coluna social”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É claro, é irônico ver a classe dominante sair às ruas para uma “manifestação política” raivosa. É patético ver esse público de “coluna social” com camiseta da CBF e clamando por “ética”, embrulhado nas cores da Casa de Bragança e entoando brados nacionalistas, insistente no seu amor pela democracia e exigindo intervenção militar. E é lamentável (ainda que explicável) ver parcelas consideráveis da classe dominada aderindo, de maneira irrefletida, às pautas dessa classe dominante.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mas uma crítica não é possível fazer: a rejeição da classe dominante à bandeira vermelha é, sim, coerente. É coerente precisamente com os seus <i>interesses de classe</i>. Há, é verdade, louváveis exceções nisso – entre as quais os próprios Marx e Engels devem ser listados –, mas os membros da classe dominante que prezam a sua dominância não podem aderir a uma política propriamente <i>de esquerda</i>. Nesse sentido, a bandeira da classe dominante, de fato, nunca será vermelha. A minha, por outro lado, nunca será de outra cor.</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-81999770200278088452014-08-15T13:02:00.001-03:002015-12-10T10:26:16.225-02:00[jabá] Lançamento: "A questão do direito em Marx" e "Sujeito de direito e capitalismo"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh50Upfpvl5cha-H0YnSkyiOaiNqF7JNuSdt1yizCSGG2AT3-wA91b4lCD7NeE4EgyDxwJfOF0Adx_h9pXDz7uelq3JgnEMyXPoTDI4pfiaJ27edVcMYK6G0-RV04TiRULAImn8Y9qX4A/s1600/Convite_OutrasExpressoes_ok2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="509" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh50Upfpvl5cha-H0YnSkyiOaiNqF7JNuSdt1yizCSGG2AT3-wA91b4lCD7NeE4EgyDxwJfOF0Adx_h9pXDz7uelq3JgnEMyXPoTDI4pfiaJ27edVcMYK6G0-RV04TiRULAImn8Y9qX4A/s640/Convite_OutrasExpressoes_ok2.jpg" width="640" /></a></div>
<br />CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-1984678583970703082014-06-11T18:27:00.000-03:002014-06-11T18:28:58.139-03:00[jabá] "A questão do direito em Marx" e "Sujeito de direito e capitalismo"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbIxsLEePwB1_PF7DocHzkApae4h0x0EhnSr0F5FjWL74VGx8rtVj85rZbQZzeqfGtIdEGVpM-75vnwl6701tgvrijVcddtdHaaGn2Rr8ICxF45ZlTLdiLGTtEyoGN3NJsx5oTNJg_MQ/s1600/livros.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbIxsLEePwB1_PF7DocHzkApae4h0x0EhnSr0F5FjWL74VGx8rtVj85rZbQZzeqfGtIdEGVpM-75vnwl6701tgvrijVcddtdHaaGn2Rr8ICxF45ZlTLdiLGTtEyoGN3NJsx5oTNJg_MQ/s1600/livros.png" height="472" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os dois novos títulos da coleção "Direitos e lutas sociais", parceria entre as editoras Dobra e Expressão Popular:</span><br />
<br />
<ul>
<li><b style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>A questão do direito em Marx</i></b><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">, a extraordinária tese de livre-docência do camarada Márcio Bilharinho Naves.</span></li>
<li><b style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>Sujeito de direito e capitalismo</i></b><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">, minha tese de doutorado.</span></li>
</ul>
<br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Disponíveis em:</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://www.expressaopopular.com.br/">http://www.expressaopopular.com.br</a></span><br />
<a href="http://www.dobraeditorial.com.br/"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">http://</span><span style="color: #0000ee; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><u>www.dobraeditorial.com.br</u></span></a><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-24435107110540199342013-07-24T12:00:00.000-03:002013-07-24T12:00:04.356-03:00[Crítica Social] Habemus papam<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b><i>HABEMUS PAPAM</i></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A visita ao país do Papa Francisco I, soberano da monarquia absoluta teocrática do Estado da Cidade do Vaticano, é notícia onipresente nos veículos de comunicação. As supostas virtudes de Sua Santidade, sobretudo uma “simplicidade” tão convenientemente demonstrada, são exaltadas a cada instante. Imagens de manifestações exageradas de devoção e de fanatismo das multidões que seguem o sumo pontífice inundam os noticiários: provas da grande e inabalável “fé” dos brasileiros, é o que dizem. Provas, sem dúvida, da grande influência que a religião ainda exerce entre nós em questões não religiosas, sobretudo políticas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Nesse sentido, a sensacionalismo midiático sobre a visita do papa não pode elidir problemas fundamentais. Limitemo-nos a dois questionamentos aparentemente deixados de lado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em primeiro lugar, a despeito do misticismo que envolve o cargo, o papa é líder de uma instituição, a Igreja Católica – instituição que, a despeito do misticismo que a envolve, atua <i>neste mundo</i>. Essa atuação envolve influência, poder, dinheiro. Não é demais lembrar que a instituição Igreja é uma das maiores proprietárias fundiárias do mundo, que recolhe anualmente somas vultosas de recursos de seus seguidores e que sustenta uma estrutura gigante e global. Também não é demais lembrar que, pouco tempo atrás, essa mesma instituição ocupava os noticiários com manchetes muito diversas: escândalos sobre suas finanças, denúncias seríssimas a respeito da atuação mundana do poderoso “Instituto para as Obras da Religião” (ou Banco do Vaticano) etc. Nada poderia ser mais conveniente para abafar tais escândalos do que um carismático garoto-propaganda das virtudes “franciscanas” – mas o que as virtudes de um único homem (mesmo que autênticas, o que sequer vem ao caso) alteram nas práticas mundanas efetivas da Igreja? Ou, ao contrário, a propaganda da “simplicidade” é apenas uma maneira de perpetuar as mesmas práticas longe dos holofotes?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em segundo lugar, o sorriso fácil do papa e os seus gentis discursos sobre fraternidade, solidariedade e amor ao próximo não mudam o lugar que a influência religiosa ocupa no espectro das posições políticas no cenário contemporâneo. Não são, via de regra, posições de esquerda ou sequer progressistas. Ao contrário, argumentos de inspiração religiosa são os principais pontos de apoio de algumas das posturas mais retrógradas de que dispomos: contra a legalização do aborto, contra a pesquisa científica que envolve o genoma humano, contra a emancipação feminina, contra os direitos dos homossexuais etc. A influência da religião na política não tem levado a nenhuma exigência de transformação social, a nenhum clamor efetivo por mudança radical – na melhor das hipóteses, tem levado a uma proposta vaga de moralização da política, tradicional bandeira da direta. Noutras palavras, a influência da religião tem servido a uma política conservadora. Não seria, então, o momento de propor, ao invés de uma aproximação, uma emancipação da política quanto à religião? Ou, mais precisamente, uma política verdadeiramente laica?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 24/07/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-76177767698485253542013-07-03T13:00:00.000-03:002013-07-06T00:30:29.588-03:00[Crítica Social] Ainda sobre as manifestações<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>AINDA SOBRE AS MANIFESTAÇÕES</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">I – A estratégia adotada pela grande mídia para “anular” as manifestações foi muito mais eficiente do que aquela da tropa de choque. De um dia para o outro, a TV e os grandes jornais passaram a “apoiar” o movimento, com a ressalva explícita de que seriam “legítimos” apenas os protestos pacíficos. Com isso, o movimento rachou entre uma “maioria” de “pacifistas” e uma “minoria” de “baderneiros” que se “infiltravam” apenas para causar desordem e depredação. A “maioria” passou logo a ser pautada pelos telejornais e se transformou num freio mais forte do que balas de borracha contra qualquer possibilidade de radicalização das manifestações.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">II – Imediatamente após a redução das tarifas do transporte público, o movimento perdeu a pouca unidade que tinha. Uma enorme somatória de exigências inteiramente fragmentadas e contraditórias tomou as ruas. Uma série de pautas “apolíticas” e até mesquinhas passou a desviar a atenção quanto ao principal: desde maus-tratos aos animais até redução do imposto de importação para eletrônicos. Instalou-se, com o aplauso da mídia, uma aversão a “ideologias” – mas o silêncio das “ideologias” é sempre o território da direita. O nacionalismo inconsequente das multidões enroladas na bandeira e cantando o hino nacional, simbologia típica da extrema direita, é a prova cabal disso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">III – Instalou-se igualmente uma aversão generalizada aos partidos políticos. Mas essa aversão se dirige, no fundo, contra qualquer forma de unificação e organização do movimento. Assim, as manifestações canalizaram uma enorme massa de insatisfação reprimida, mas essa insatisfação foi acompanhada de uma recusa ativa (e por vezes agressiva) a tomar consciência de suas causas e dos meios adequados para levar adiante as suas exigências. Não se percebeu que os partidos que foram para a rua (e que foram hostilizados pela “maioria” “pacifista” e “sem ideologia”) eram sobretudo partidos de esquerda (que, cada um ao seu modo, pleiteiam mudanças) – e, por outro lado, isto permitiu a apropriação do discurso do movimento por partidos de direita (que pretendem bloquear qualquer mudança efetiva e que são, portanto, “inimigos” do movimento).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">IV – Ainda assim, não deixa de ser interessante observar o terror instalado entre os detentores do poder político diante da simples visão das massas tomando as ruas. Esse terror tem uma causa óbvia: o potencial maior de transformação social radical reside precisamente no movimento de massas, que toma as ruas para fazer as suas exigências fora dos mecanismos institucionais da democracia estabelecida (que garantem de antemão a esterilidade de qualquer participação política). Infelizmente o discurso vago do movimento tende a tornar possível responder aos clamores das ruas com propostas igualmente vagas de “reforma política”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">V – Mais ainda, não deixa de ser interessante observar o pânico das elites brasileiras. Os sintomas desse pânico apareceram de diversas maneiras: nos boatos espalhados nas redes sociais sobre um novo golpe militar, na reacionária crítica de Arnaldo Jabor veiculada num telejornal da <a href="http://youtu.be/StHDTaTHENU" target="_blank">Globo</a> (e prontamente <a href="http://youtu.be/vVGFlnJ-W1E" rel="nofollow" target="_blank">retificada</a> logo a seguir), num texto <i>nonsense</i> publicado na <a href="http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/exclusivo-relato-de-uma-uspiana-muito-estranha-ou-o-territorio-livre-se-encontra-com-o-construtivismo-na-terra-do-nunca/" rel="nofollow" target="_blank">Veja</a> em que uma professora da USP censura o movimento por ser composto por jovens que foram “mimados” na infância etc. Ora, trata-se da reação “natural” daqueles que se acostumaram a estar do lado vencedor diante do simples vislumbre, ainda que muito remoto, de uma virada de mesa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 03/07/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-59219584736436518622013-06-18T00:55:00.001-03:002013-07-06T00:34:52.033-03:00[Crítica Social] Reflexões sobre as manifestações em São Paulo<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>REFLEXÕES SOBRE AS MANIFESTAÇÕES EM SÃO PAULO</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">I – A reação espontânea às recentes manifestações que tomaram as ruas de São Paulo para protestar (a princípio) contra o aumento da passagem de ônibus urbano e metrô para R$ 3,20 é uma boa unidade de medida de posicionamentos políticos. Quem argumenta que os manifestantes têm direito de manifestar a sua opinião desde que em silêncio, sem atrapalhar o trânsito ou a “vida alheia” – é conservador. Quem “argumenta” que são desordeiros, baderneiros, desocupados etc. e que a “ordem” deve ser mantida à força – é reacionário.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">II – O ponto de vista segundo o qual “míseros” 20 centavos não justificam as manifestações é o ponto de vista típico das classes médias e altas. Isto é, o ponto de vista de quem tem leva uma vida confortável (no mínimo) e, principalmente, de quem não usa transporte público. A sua base de apoio mais íntima é a velha discriminação social, o profundo e esnobe desprezo pela pobreza que atinge os grupos que se acostumaram (e gostam de) olhar “de cima para baixo” na sociedade brasileira. R$ 3,20 é, sim, demais, além do aceitável para um transporte público ruim, lento, em que usuário é cotidianamente maltratado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">III – Quem defende as manifestações com a ressalva de que não sejam violentas é, na verdade, contra as manifestações. A mobilização não vai simplesmente “convencer” com seus números. Nenhuma transformação efetiva surge da simples “boa vontade”. Transformações são conquistadas. Grandes transformações – que exigem vencer resistências, vencer os interesses dominantes etc. – são conquistadas à força. As censuras voltadas contra as manifestações exprimem, cada uma a seu modo e com seus (precários) argumentos, aversão à simples possibilidade dessas transformações e o desprezo por quem tem a “ousadia” de lutar por elas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">IV – A crítica que apela a um “despreparo” da PM está fundada numa representação idílica do aparato policial como guardião da ordem e da segurança. Sim: assistimos a cenas deprimentes de violência gratuita por parte da PM, vimos balas de borracha (ainda potencialmente letais) sendo disparadas sem motivo, vimos policiais tomando as ruas deliberadamente sem identificação nas fardas, vimos um policial atirando spray de pimenta num cachorro e outro descaradamente quebrando o vidro da própria viatura. Mas, não: isto não é despreparo. A função primordial do aparato policial é precisamente a repressão, ele é preparado para isso: guardião da ordem, mas de uma ordem muito específica, amparada por interesses muito específicos, dispostos a utilizar a força bruta se preciso for. (Com a ressalva clara de que isto diz respeito à polícia como instituição: os policiais não são individualmente responsáveis pela situação e sequer pertencem às classes sociais que se beneficiam dessa força bruta.)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">V – Ainda que as manifestações não resultem em nada de concreto, a violência policial escancarada em frente aos cinegrafistas da TV e compartilhada ao vivo nas redes sociais deixa pelo menos algo de permanente: uma amostra vívida do que acontece cotidianamente nas periferias das grandes cidades brasileiras, longe de qualquer registro pelas câmeras e sem qualquer alarde na mídia. Agora todos podem saber que é com essa violência (ou mais) que a desigualdade social é “enfrentada” todos os dias.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
</span><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 19/06/2013.]</span></div>
</div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-59967609515910153212013-05-16T08:00:00.000-03:002013-07-06T00:34:38.434-03:00[Crítica Social] Sobre o “bolsa crack”<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>SOBRE O “BOLSA CRACK”</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O governo do estado de São Paulo anunciou nos últimos dias um programa de assistência em que famílias de dependentes do crack receberão R$ 1.350,00 mensais para custear o tratamento destes em clínicas particulares. E, como era de se esperar, o programa recebeu desde então uma avalanche de críticas – em geral, como também era de se esperar, do pior tipo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Há, é bem verdade, um preconceito já bastante arraigado contra o dependente do crack, preconceito que apenas agrava a situação já por si só muito grave do dependente. Como acontece com todos os outros tipos de dependência química, a questão é, desde o princípio, moralizada indevidamente. Mas especificamente no que diz respeito ao crack, as medidas de combate à dependência têm sido carregadas por uma preocupação higienista muito clara, cujo pressuposto é uma visão do dependente como uma espécie de “sujeira” ou de “doença” no espaço urbano. A desocupação violenta da assim chamada “cracolândia”, na cidade de São Paulo, no início de 2012 e a recente onda de propostas de internação compulsória dos dependentes são a prova disso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Embora evidentemente insuficiente e falho, o auxílio para custear o tratamento do dependente do crack foge, ao menos em parte, desse esquema higienista. Enfrenta a dependência como uma questão de saúde pública e parte do reconhecimento de que a rede estatal de saúde não dispõe de condições mínimas suficientes para oferecer a todos o tratamento adequado. E este é precisamente o grande problema do programa, aquilo pelo qual deve ser criticado: o enfrentamento ideal seria, de fato, aquele levado a cabo por meio da ampliação quantitativa e do incremento qualitativo da oferta de tratamento público para os dependentes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Para além disso, o programa herda uma série de críticas repletas de ideais reacionários e sofre as mesmas censuras já repetidas à exaustão contra outros programas sociais, como o bolsa família ou o bolsa escola. Para quem prefere – ou ao menos parece preferir – que a população em situação de miséria continue na mesma, sem qualquer assistência por parte do Estado, talvez pareça aceitável que o dependente do crack continue simplesmente na mesma situação, à margem de tudo, sem qualquer amparo. Basta um pouco de razão, no entanto, para perceber que isto é um absurdo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 15/05/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-23047870174606933082013-05-09T07:25:00.000-03:002013-07-06T00:34:22.602-03:00[Crítica Social] Sem saída<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>SEM SAÍDA</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os direitos humanos! A arte engajada/autêntica/não alienada! A educação para a autonomia/para a emancipação! O pensamento livre/desideologizante! Há uma saída! Sempre há uma saída!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A liberdade e a igualdade concretizadas! A vitória dos valores sociais sobre o individualismo! A essência humana finalmente realizada! A conscientização/politização das massas! Há uma saída! Sempre há uma saída!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mas não, não há saída. Que vã esperança é essa que parece empurrar permanentemente a crítica social para o devaneio? Que otimismo ingênuo é esse que parece recusar-se a admitir que todas as portas estão trancadas (e que, portanto, é preciso, no mínimo, derrubá-las à força)? Por que é tão necessário renovar a todo momento o anúncio de uma saída pronta e à disposição, sempre ao alcance, logo ali? Por que é tão necessário ter em mãos isto, seja lá o que for, que permite conclamar sem cessar: “vejam, aqui está toda a esperança”?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Será o completo desespero ante a completa falta de alternativa? Desespero que, no limite, exige antepor alternativas onde não há. Desespero que, quase transformado em delírio, precisa imaginar para suportar a dura realidade. Será, então, que a mentira de que a transformação virá amanhã ou logo mais é condição para manter minimamente em atividade toda crítica e toda luta? Será que essa mentira é a condição que impede a derradeira rendição, a capitulação cabal ante o presente?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ou será que a “aposta” nas formas e elementos típicos do mundo capitalista como protagonistas da transformação social é, na verdade, o índice do compromisso ainda profundamente arraigado, mesmo entre os críticos, com esta mesma sociedade? Será que essa “aposta” inteiramente ineficaz é a medida da incapacidade da crítica de abrir mão, no limite, do presente em nome de um futuro inteira e radicalmente novo? Ora, não se pode superar a sociedade presente com a reposição de mais do mesmo. Se a tarefa que se impõe à crítica social é pensar a superação da sociedade capitalista, certamente ela não pode pretender utilizar para tal fim aquilo que a própria sociedade capitalista oferece. E se ela não consegue pensar essa superação senão através dos elementos que a sociedade a ser superada fornece, o seu vínculo mesmo com a transformação social é que deve ser questionado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 08/05/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-61282238036267556262013-05-02T09:06:00.000-03:002013-07-06T00:33:59.321-03:00[Crítica Social] Sobre a redução da maioridade penal<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>SOBRE A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Há várias maneiras de não resolver um problema. Uma maneira particularmente eficaz de fazê-lo é atacar as consequências do problema, os seus efeitos, as suas formas de manifestação, sem jamais atingir as suas causas. É disso que se trata, em pouquíssimas palavras, a proposta atualmente em discussão de redução da maioridade penal no Brasil.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Novo bastião do conservadorismo e do senso comum prontamente alinhado à direita, a redução da maioridade penal é uma resposta inadequada e insuficiente, muito convenientemente requentada midiaticamente para atender a certos interesses políticos específicos do momento. O seu pressuposto é a presunção de que a ameaça da sanção penal (ou a sua efetiva imposição, tanto faz) serve como inibidora da prática de delitos – e, portanto, a presunção de que a perspectiva de impunidade para os menores de 18 anos é o fator determinante que “empurra” o jovem para a criminalidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ora, se a sanção penal servisse realmente como inibidora, a criminalidade entre os maiores de 18 anos deveria ser reduzida. Mas não é. A existência simultânea de um sistema prisional cada vez mais superlotado e de índices de criminalidade crescentes é a prova empírica cabal. As medidas penais não reduzem significativamente a incidência da criminalidade simplesmente porque a ameaça ou não da sanção não é o fator determinante, não é o que “empurra” alguém para a prática do crime. A repressão estatal não elimina, sequer reduz drasticamente a criminalidade simplesmente porque mantém intactas as suas causas mesmas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O fator determinante não é jurídico, portanto não pode ser enfrentado com uma mera alteração legislativa. O que leva o adulto ou o jovem para o crime é a perpetuação de condições sociais de extrema desigualdade. Condições de profunda exclusão e, ao mesmo tempo, de profunda carência de expectativas que, ao menos enquanto não houver uma transformação social radical, impossível de levar a cabo juridicamente, continuarão atuando sobre o jovem – quer a maioridade penal seja de 18, de 16, de 14, de 12 ou de 5 anos de idade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 01/05/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-29380592388660083812013-04-18T08:33:00.000-03:002013-07-06T00:33:05.439-03:00[Crítica Social] A senzala e a lei<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>A SENZALA E A LEI</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A aprovação da emenda constitucional que assegura os direitos sociais mais básicos às empregadas domésticas tem causado alvoroço há alguns dias. Algo tão simples, tão elementar, mas que causa um incômodo muito revelador: um incômodo típico da classe média brasileira, eternamente deslumbrada diante do mesmo delírio elitista, vivendo permanentemente o mesmo e desprezível desejo de reafirmar a sua posição de “superioridade” e, ao mesmo tempo, de ver-se “servida” por aqueles que estão abaixo. A reação típica – para ser simples e direto – daquilo que há mais conservador dentre os ideais políticos superficiais e espontâneos que habitam o senso comum. (Se bem que isto não impede, é claro, outros ideais mais elaborados e nem um pouco ingênuos no mesmo sentido.)</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ora, o que pode haver demais aqui? Trata-se do simples reconhecimento expresso de que a empregada doméstica é uma trabalhadora como qualquer outra e, portanto, de que ela deve ter garantidos todos aqueles direitos de que todos os outros trabalhadores dispõem. O absurdo – e também o único motivo de espanto possível aqui – reside na inaceitável demora para que esse reconhecimento fosse levado a cabo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Até mesmo como conquista política, esse reconhecimento só pode ser reverenciado até certo ponto. Não se trata do triunfo do “fraco” sobre o “forte” e, assim, todos aqueles que se colocam ao lado do “fraco” não podem dar-se por satisfeitos. O que todas as posições políticas críticas, insatisfeitas com o presente e engajadas na transformação social têm a comemorar é apenas a vitória sobre uma resistência fundada num anseio pela manutenção de uma desigualdade extrema e num preconceito atroz que quase faz remontar à mão que (sádica e) prazerosamente segura o chicote do senhor de escravos. Mas mesmo essa vitória é, para dizer o mínimo, muito parcial.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Tratar a empregada doméstica como trabalhadora, com os direitos correspondentes, significa, na melhor das hipóteses, explorar o seu trabalho com alguma “dignidade” ou com uma indignidade mitigada. Na melhor das hipóteses, note-se, porque a garantia jurídica não implica imediatamente esse incremento de “dignidade”. Mas, no efetivo, isso não significa nada – ou melhor, não significa que tenha havido ou que haverá qualquer transformação social considerável, em termos estruturais, por conta desse reconhecimento de direito. No que é fundamental, a exploração mesma não é atingida, sequer arranhada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 17/04/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-66489843325851457632013-03-28T08:08:00.000-03:002013-07-06T00:32:44.635-03:00[Crítica Social] Sobre a desocupação da aldeia Maracanã<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>SOBRE A DESOCUPAÇÃO DA ALDEIA MARACANÃ</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na manhã da última sexta-feira, 22/03, a polícia militar desocupou de forma muito violenta o terreno da aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro. Antiga sede do Museu do Índio e ocupado de 2006, o local integra os planos de reestruturação do entorno do estádio do Maracanã para os eventos esportivos de 2014 e 2016. Diante do absurdo da violência e, sobretudo, diante dos interesses que animam esse absurdo, algumas reflexões podem ser levantadas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">I – Não é incomum encontrar aqueles que ainda concebem o índio como um semibárbaro (ainda que essa posição seja frequentemente “disfarçada” para evitar constrangimentos) e, assim, entendem que arrastar o índio para fora da sua vida tradicional é o mesmo que arrastá-lo para dentro da “civilização”, portanto um “favor” a ele prestado. Quando, no entanto, assistimos às cenas deploráveis de como esse “favor” é levado a cabo, é impossível não perguntar: de que lado está a barbárie e de que lado está a civilização? A atrocidade cometida contra o índio é uma demonstração cabal da incivilidade da sociedade que pretende civilizá-lo à força.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">II – A violência contra o índio evidenciada no episódio da aldeia Maracanã é apenas uma ínfima parcela da violência sistemática e multissecular dirigida contra os indígenas do Brasil. O que espanta aqui é apenas o descaramento da violência cometida à luz do dia numa grande cidade, diante de veículos de imprensa e câmeras de TV, mas a violência que os indígenas sofrem, em silêncio e com a conivência da grande mídia, nas áreas mais distantes e, sobretudo, a violência que empurrou, desde o séc. XVI, os povos indígenas para as margens do território e da sociedade do Brasil é incalculavelmente maior.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">III – A barbárie que vitimou os índios da aldeia Maracanã tem por “motor” os interesses bastante ávidos pela especulação imobiliária. Trata-se, em última análise, da barbárie intrínseca ao capital. Não há, no mundo contemporâneo, força maior: o capital não hesita passar por cima do respeito à diversidade, dos assim chamados diretos humanos, da dignidade ou mesmo da vida de quem quer que seja. Essa é a barbárie cotidiana do nosso mundo, repetida sem cessar sob a “capa” da civilidade do “melhor dos mundos possíveis”: a barbárie da miséria, da exploração do trabalho, da exclusão social, da violência estrutural contra todas as minorias etc. Os índios são apenas mais uma das “vítimas”: é preciso que todas as outras, a imensa maioria, se reconheçam como partes de uma mesma luta.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 27/03/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-30006564003000536682013-03-21T08:25:00.000-03:002013-07-06T00:32:10.699-03:00[Crítica Social] Sobre o cicloativismo<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>SOBRE O CICLOATIVISMO</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Um deplorável acontecimento em São Paulo, na Av. Paulista, colocou em evidência um movimento de usuários e defensores da bicicleta como meio de transporte. Mas o acontecimento – o atropelamento de um ciclista que teve o braço decepado e, a seguir, atirado num rio por um inconsequente – não foi mais do que um infeliz gatilho midiático. Esse movimento cicloativista, na verdade, existe já há tempos e tem ganhado força significativa em grandes cidades brasileiras.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Trata-se, sem nenhuma dúvida, de uma exigência bastante legítima. A estrutura urbana de nossas metrópoles – São Paulo talvez mais do que qualquer outra – têm sido desenvolvida sob a lógica dominante ou exclusiva do deslocamento via automóvel privado. As consequências são óbvias e não poderiam ser piores: transporte ineficiente e caro, congestionamento, poluição etc. Assim, qualquer iniciativa em prol do transporte coletivo (sobretudo) ou do transporte individual alternativo há de ser bem recebida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Por outro lado, o uso da bicicleta não pode ser apresentado como “solução” para o que quer que seja. A “boa vontade” do ciclista que se dispõe a enfrentar, na contracorrente, a enxurrada de veículos automotores que toma as ruas não é uma medida minimamente eficaz para mudar a realidade. Para ser alçado à qualidade de movimento social ou de movimento que propõe algo de efetivamente transformador, o cicloativismo precisa tomar em consideração fatores que extrapolam a luta por “respeito” pelo lugar da bicicleta no trânsito e por “direitos” para o ciclista.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Como tantos outros movimentos, o cicloativismo se coloca atualmente como uma luta setorial, por reconhecimento e proteção às prerrogativas de um grupo. Nesse sentido, a sua luta é até “mais fraca” do que a de muitos outros movimentos: porque a sua causa é socialmente menos urgente (do que a causa da discriminação do negro, da mulher ou do homossexual, por exemplo) e porque o grupo dos ciclistas é numericamente inferior com relação a muitas das outras “minorias”. A condição para que o cicloativismo assuma um caráter transformador é a radicalização das suas exigências de modo que a luta pelo lugar da bicicleta seja, ao mesmo tempo, luta contra a sociedade na qual a bicicleta é marginalizada. Noutras palavras: a luta pelo lugar da bicicleta como capítulo da luta pela transformação da sociedade presente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Isto exige, em primeiro lugar, buscar as razões da marginalidade da bicicleta. A lógica do transporte por meio do automóvel privado, lógica que exclui o ciclista, não aparece por acaso, não está ligada a “má vontade” ou a “falta de esclarecimento”, mas está profundamente conectada ao tipo específico de estrutura econômica – e, consequentemente, ao tipo de sociedade – na qual vivemos: que privilegia a produção do carro como mercadoria e que, em última análise, coloca, no trânsito, o interesse da montadora acima do interesse mais amplo por um trânsito que flua e o interesse individual do motorista acima do interesse mais amplo por uma cidade acessível e limpa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sem a transformação de tais condições econômicas e sociais, o lugar da bicicleta não poderá ser senão secundário. Sem isso, o cicloativismo não será mais do que voluntarismo insistente e ingênuo, porém sem maiores consequências.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 20/03/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-23008481101628809642013-03-07T08:03:00.000-03:002013-07-06T00:31:49.760-03:00[Crítica Social] Sobre a violência dos videogames<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>SOBRE A VIOLÊNCIA DOS VIDEOGAMES</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na sociedade na qual o bullying se tornou tabu e o politicamente correto foi alçado a novo dogma religioso, tornou-se lugar comum acusar os videogames de violentos e imputar a violência do “mundo real” aos videogames. Os pais, hoje, proíbem aos filhos o acesso aos jogos eletrônicos violentos na ânsia de “protegê-los” de algum tipo de desvio na formação que, causado por esses jogos, supostamente poderia transformá-los em indivíduos violentos. Não podem “protegê-los”, no entanto, do que realmente importa: da sociedade em que vivem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Essa situação é radicalmente diferente daquela que predominava ainda há pouco tempo. Quem foi criança ao longo dos anos 80 e 90 cresceu não apenas exposto a videogames violentos (para a classe média, pelo menos), mas sob “rigorosa” educação provida diariamente por horas diante da TV (nesse caso, para todas as classes sociais). E o conteúdo “infantil” da TV nesse período era igualmente violento, sem qualquer pudor: filmes, seriados e até desenhos animados recheados de agressão gratuita, sangue e tripas. Não havia, ao que parece, grande preocupação dos pais a esse respeito. E não há, pelo menos não claramente, indício de uma maior tendência à violência por parte dos indivíduos pertencentes a essa geração (hoje com mais de 25 anos).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quando um adolescente invade a sua escola armado e distribui tiros para todos os lados – algo que infelizmente se repete com cada vez mais frequência nos EUA e no mundo todo – ou diante de qualquer outra situação em que jovens são surpreendidos em atos de extrema violência, buscar os motivos para isto nos videogames é apenas a saída mais fácil e, como tal, falsa. A responsabilidade não é dos videogames, é da sociedade mesma que, pelos mais diversos meios e permanentemente, inculca a violência nos indivíduos. O que significa dizer: a responsabilidade é de todos – exatamente aquilo que, diante de uma tragédia, ninguém quer ouvir ou admitir.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ora, a causa da violência do “mundo real” não está na violência dos videogames. Há aqui uma completa inversão. A violência do “mundo real” evidentemente precede aquela do “mundo virtual” – isto é, a violência do “mundo real” não é o efeito, mas a causa da violência do “mundo virtual”. A violência dos videogames apenas replica a violência da sociedade em que os videogames são produzidos e consumidos. O que torna a violência “virtual” atrativa para as crianças e jovens que consomem os jogos eletrônicos, ou seja, o que torna a reprodução virtual da violência uma forma de entretenimento, é a banalização da violência previamente produzida e reproduzida na constituição mesma do indivíduo pela sua simples “existência” numa sociedade em que a violência é banal, cotidiana e profundamente arraigada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 06/03/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-6863433641621465532013-02-06T23:26:00.000-02:002013-07-06T00:31:11.305-03:00[Crítica Social] Religião, privilégio, homossexualidade<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: large;"><b>RELIGIÃO, PRIVILÉGIO, HOMOSSEXUALIDADE</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">No último domingo, 03/02/2013, foi ao ar no SBT, no programa “De frente com Gabi”, uma longa <a href="http://youtu.be/Myb0yUHdi14" rel="nofollow" target="_blank">entrevista</a> com Silas Malafaia, pastor evangélico e pregador televisivo. O pretexto para a entrevista foi a recente <a href="http://www.forbes.com/sites/andersonantunes/2013/01/17/the-richest-pastors-in-brazil/" rel="nofollow" target="_blank">reportagem</a> da revista Forbes que estimou o patrimônio do entrevistado em 150 milhões de dólares – o assunto principal foi, no entanto, um outro bem diferente: homofobia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Encaremos isto com franqueza: pouco importa, na verdade, o que Silas Malafaia pensa a respeito da homossexualidade. A sua opinião é apenas mais uma (ainda que, infelizmente, bastante comum). E uma bem conhecida, como a de quase todo padre, pastor, pregador, apóstolo (a que ponto chegamos!) ou outro qualquer homem que se esconde por detrás da bíblia: o seu único “fundamento” é uma certa crença, nada mais. Irracional, como toda crença. Algo que não se pode pretender universalizar, como toda crença. Algo que, portanto, não é e não pode ser um verdadeiro fundamento.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">De todos os argumentos do pastor, parece digno de comentário apenas um (que, para o próprio pastor, não parece ser o mais importante): aquele segundo o qual a luta pelos direitos dos homossexuais seria uma luta por direitos especiais “em detrimento da coletividade”, isto é, por privilégios. É, sem dúvida, um argumento grave e preocupante, porque procura apresentar a luta dos homossexuais como uma luta <i>contra</i> todos mais e, ao mesmo tempo, propagandeia uma posição que permite (ou incentiva) a reprodução do preconceito como uma forma de resistência <i>a favor</i> da coletividade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ora, nada pode ser menos razoável. Este argumento pura e simplesmente inverte a situação real. Encarar a luta dos homossexuais como uma luta por privilégios implica desconsiderar a realidade brutal da discriminação e da exclusão, a realidade brutal da homofobia. Literalmente brutal, porque o preconceito é atroz, mas também porque este preconceito cotidianamente se converte em violência aberta.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Que fique claro: por <a href="http://hawatari.blogspot.com.br/2008/09/surtos-e-paranias-o-pensamento-de.html" target="_blank">razões muito específicas</a>, não penso que o direito possa <i>resolver</i> essa questão. Mas não se pode supor que, nesta luta, os homossexuais exijam para si direitos <i>a mais</i>, em maiores proporções do que os direitos de que dispõe o “indivíduo médio”, instituindo uma desigualdade a seu favor. Exigem, na verdade, o mínimo que lhes é negado. Exigem a consideração, a dignidade, a sobrevivência que lhes são continuamente vetadas. Exigem precisamente o contrário do que diz o argumento dos “privilégios”: exigem a igualdade jurídica mais elementar e o fazem porque, como minoria, hoje, sem qualquer proteção jurídica específica, a sua situação de fato é desigual <i>para menos</i> em comparação com a maioria heterossexual.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Só mesmo as trevas do preconceito, do fanatismo ou do oportunismo podem cegar para uma realidade tão clara e, ao mesmo tempo, tão terrível.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 06/02/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-16287924339043177792013-01-24T10:59:00.000-02:002013-01-24T10:59:58.172-02:00[Crítica Social] Internação... compulsória?<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;"><b>INTERNAÇÃO... COMPULSÓRIA?</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Uma ideia simples, que pode passar despercebida para muitos ou é ingênua e calorosamente aplaudida pelo grande público. Refiro-me à internação compulsória de dependentes químicos, iniciativa lançada no Rio de Janeiro e que agora chega a São Paulo. Em pouco tempo, é razoável supor, deveremos vê-la implantada em todo o Brasil.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O problema aqui não está em constatar que o dependente químico precisa de tratamento médico. Isto é óbvio: enfrentar uma questão de saúde pública como uma questão de saúde pública. O problema está em pensar ingenuamente que o poder público propõe a internação compulsória, de “boa vontade”, para o bem comum e para o bem do próprio dependente que, incapacitado pela própria dependência, não é capaz de decidir o que é melhor para si próprio. A proposta, velha conhecida, é fazer o “bem” ao próximo, ainda que à força: o mesmo argumento pelo qual foram justificadas as Cruzadas e a Inquisição, pelo qual se defende a assimilação do índio à sociedade capitalista, pelo qual os pais tentam justificar para si mesmos a injustificável violência cometida na “educação” dos filhos. As consequências, em todos esses casos, são notoriamente conhecidas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Trata-se, em suma, de apresentar a internação compulsória como algo que, em definitivo, ela não é. Uma medida de saúde pública não pode, afinal, tornar-se eficaz à base da força pura e simplesmente. A força é o mecanismo próprio de um outro tipo, bastante diverso, de medida: aquele que encara a dependência química como questão policial, como questão a ser enfrentada por meio da repressão. Não há exemplo mais evidente disto do que o deplorável episódio da invasão policial e “desocupação” da “cracolândia”, no centro de São Paulo, em janeiro de 2012. Não pode haver resultado mais evidente: uma vez que a ação se dirige aos efeitos e não às causas, ao dependente e não à dependência, o problema é afastado, removido, disfarçado, mas nunca resolvido.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ainda que se disfarce, ainda que se negue convictamente, o que resta ainda por detrás da internação compulsória é o mesmo higienismo de sempre. O mesmo higienismo tão característico das elites brasileiras, que se aplica de tantas maneiras e permanentemente contra o pobre, contra o negro, contra o índio, contra o homossexual e, desde que a dependência do “crack” tornou-se uma epidemia, contra o dependente que, ocupando miseravelmente as ruas, “polui” a cidade. Higienismo que exige a “assepsia” do espaço urbano, custe o que custar. Se o campo de concentração, a fornalha ou a “clínica de reabilitação” é o destino final, pouco importa – desde que o “outro” seja eliminado (ao menos do campo de visão).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">No fim das contas, a internação compulsória tende a ser apenas um protótipo de prisão sem crime e sem julgamento. Prisão em que os carcereiros vestem branco. Assim como as prisões convencionais, abarrotadas enquanto a incidência da criminalidade apenas aumenta, isto tende a ser apenas mais uma “solução extrema” para coisa nenhuma.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 23/01/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-12933092714336141802013-01-09T16:35:00.000-02:002013-01-09T16:35:13.917-02:00[Crítica Social] Sobre Chávez e a grande mídia<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;"><b>SOBRE CHÁVEZ E A GRANDE MÍDIA</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ao contrário do que o leitor pode imaginar, não pretendo fazer aqui qualquer tipo de defesa do governo Chávez na Venezuela. Não porque o governo Chávez não mereça críticas – penso, na verdade, que merece muitas. Estou certo apenas de que estas críticas devem ser de um tipo inteiramente oposto àquele comumente veiculado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Por ora, Chávez e a atual “crise institucional” da Venezuela interessam apenas por conta de uma outra questão. Como se sabe – por conta das notícias incessantes dos últimos dias –, é provável que Chávez, que está se submetendo a tratamento médico em Cuba, não possa participar amanhã da cerimônia de posse do mandato presidencial prevista na constituição venezuelana. Surge daí o questionamento jurídico (mas não apenas jurídico) mais elementar: o que fazer?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Há, como para todos os questionamentos jurídicos, interpretações divergentes. A cerimônia de posse pode ser considerada essencial, algo sem o que Chávez não poderia prosseguir para o seu 4º mandato como presidente da Venezuela. Ou pode ser considerada mera formalidade, algo dispensável ou que possa, ao menos, sofrer adiamento sem maiores problemas. A interpretação que irá prevalecer, como sempre, não é necessariamente aquela “mais próxima” do texto normativo – isto depende de fatores extrajurídicos complexos, que envolvem desde interesses econômicos e políticos até fatores conjunturais do momento em que o questionamento é posto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A cobertura da grande mídia, no entanto, ignora pura e simplesmente toda essa complexidade. E o faz por uma razão deliberada e muito simples: a grande mídia já tomou a sua decisão. Todo o noticiamento da “crise institucional” venezuelana é marcado por um ponto de vista comum: Chávez <i>não deve</i> tomar posse. Exatamente por conta disso, a cerimônia é apresentada como essencial, porque “está na constituição” – qualquer outra possibilidade é apresentada em tom de absurdo e imediatamente identificada como contrária à ordem jurídica, como “golpe”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Não que se espere que a mídia seja “neutra”. Tal neutralidade não existe. Mas a tomada de partido da grande mídia em relação à política venezuelana escancara um ponto de vista identificado visceralmente com as classes sociais mais elevadas. É para com estas classes sociais, parcialmente alijadas do poder na Venezuela, dominadoras dos grandes conglomerados midiáticos mundo afora, que vai a “solidariedade” dos grandes veículos de imprensa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Basta recordar que “estar na constituição” nunca significou muito para a grande mídia brasileira, que apoiou o golpe militar de 1964 e, de lá para cá, não esteve sempre tão preocupada com a ordem jurídica. E, especificamente quanto à Venezuela, não se pode esquecer a tentativa de golpe contra Chávez em 2002 e a atuação partidária e desprezível da imprensa local na ocasião, que deliberadamente falseando notícias, como bem mostra o documentário “<a href="http://youtu.be/MTui69j4XvQ" target="_blank">A revolução não será televisionada</a>”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 09/01/2013.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3385175093262180550.post-82534973904533737912012-12-13T09:00:00.000-02:002012-12-13T09:00:04.332-02:00[Crítica Social] Sobre o comunismo de Niemeyer<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: large;"><b>SOBRE O COMUNISMO DE NIEMEYER</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O comunismo de Oscar Niemeyer nunca foi o melhor comunismo. Dizer-se comunista ao longo de toda a vida, diante dos meios de comunicação, inclusive em períodos políticos de repressão, é, sem dúvida, um ato de coragem. Mas é impossível não reconhecer que, muito distante do necessário radicalismo, marcado por desvios idealistas e compromissos com a sociedade presente, o comunismo de Niemeyer não foi mais do que uma posição política muito diluída.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Por isso, o grande legado de Niemeyer, presumo, é mesmo a sua arquitetura – embora não esteja ao meu alcance opinar especificamente a respeito –, não os seus ideais políticos. Isto, aliás, a grande mídia, no esforço de glorificar o “gênio” Niemeyer (a morte parece ter esta consequência necessária entre as personalidades), tem procurado destacar. Da pior maneira, é claro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Há, para os meios de comunicação, duas opções. A primeira delas é destacar a “genialidade” da arquitetura de Niemeyer e, ao mesmo tempo, desprezar o seu comunismo ou tratá-lo como uma espécie de “anedota”. Esta foi, por exemplo, a escolha da Rede Globo: em meio a toda a adulação da cobertura de seus telejornais, até mostraram, num ato de “tolerância” para com as idiossincrasias de um velho, o caixão coberto pela bandeira vermelha com a foice e o martelo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A outra opção é a que faz questão de antepor uma ressalva explícita: “apesar do comunismo”. A morte, no fim das contas, amplifica todas as virtudes e apaga quase todos os “vícios”, mas um “vício” tão grave (do ponto de vista característico da mais odiosa posição de classe burguesa) como ser comunista não pode ser deixado de lado tão facilmente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Exemplo contundente desta postura pode ser encontrado num texto publicado na <i>Folha de São Paulo</i> na última sexta-feira (“<a href="http://folha.com/no1197358" target="_blank">Ideologia de Niemeyer foi mero detalhe</a>”, Bárbara Gancia, p. C-2). Nele, a colunista lamenta que Niemeyer não tenha “constatado” que “a alma humana, por questões meramente evolutivas, é movida a competitividade e a busca do individualismo”. E conclui o seu argumento anticomunista com a apoteótica tese: “o que conta agora são a vigilância constante pela regulamentação do sistema econômico e a viabilização legal da sustentabilidade”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Impressiona a capacidade de condensar tantos equívocos em tão poucas palavras. Por trás desses argumentos há: (1) a defesa de um tosco evolucionismo que naturaliza, talvez no desespero de justificar o injustificável, condições típicas de um tempo histórico muito determinado; (2) o ingênuo ou cínico entendimento de que a dinâmica do capital pode ser “domada”; (3) a precaríssima proposta de que isso possa ser feito por meio da boa vontade; (4) a pouco plausível defesa das formas jurídicas e políticas como meios de controle externo e neutro da estrutura econômica.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O comunismo de Niemeyer, mesmo não sendo o melhor, está seguramente muito acima deste tipo de crítica. Mesmo moderada e ingênua, a sua posição política é ainda muito mais precisa, mais rigorosa e mais solidamente fundamentada. Afinal, entre o comunismo moderado ou a absoluta falta de razão, não é nada difícil ficar com a primeira alternativa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif; font-size: xx-small;">[Publicações: <b>O REGIONAL</b> (Catanduva-SP), 12/12/2012.]</span></div>
CNKJhttp://www.blogger.com/profile/16626009452633408612noreply@blogger.com0