quinta-feira, 9 de maio de 2013

[Crítica Social] Sem saída

SEM SAÍDA

Os direitos humanos! A arte engajada/autêntica/não alienada! A educação para a autonomia/para a emancipação! O pensamento livre/desideologizante! Há uma saída! Sempre há uma saída!

A liberdade e a igualdade concretizadas! A vitória dos valores sociais sobre o individualismo! A essência humana finalmente realizada! A conscientização/politização das massas! Há uma saída! Sempre há uma saída!

Mas não, não há saída. Que vã esperança é essa que parece empurrar permanentemente a crítica social para o devaneio? Que otimismo ingênuo é esse que parece recusar-se a admitir que todas as portas estão trancadas (e que, portanto, é preciso, no mínimo, derrubá-las à força)? Por que é tão necessário renovar a todo momento o anúncio de uma saída pronta e à disposição, sempre ao alcance, logo ali? Por que é tão necessário ter em mãos isto, seja lá o que for, que permite conclamar sem cessar: “vejam, aqui está toda a esperança”?

Será o completo desespero ante a completa falta de alternativa? Desespero que, no limite, exige antepor alternativas onde não há. Desespero que, quase transformado em delírio, precisa imaginar para suportar a dura realidade. Será, então, que a mentira de que a transformação virá amanhã ou logo mais é condição para manter minimamente em atividade toda crítica e toda luta? Será que essa mentira é a condição que impede a derradeira rendição, a capitulação cabal ante o presente?

Ou será que a “aposta” nas formas e elementos típicos do mundo capitalista como protagonistas da transformação social é, na verdade, o índice do compromisso ainda profundamente arraigado, mesmo entre os críticos, com esta mesma sociedade? Será que essa “aposta” inteiramente ineficaz é a medida da incapacidade da crítica de abrir mão, no limite, do presente em nome de um futuro inteira e radicalmente novo? Ora, não se pode superar a sociedade presente com a reposição de mais do mesmo. Se a tarefa que se impõe à crítica social é pensar a superação da sociedade capitalista, certamente ela não pode pretender utilizar para tal fim aquilo que a própria sociedade capitalista oferece. E se ela não consegue pensar essa superação senão através dos elementos que a sociedade a ser superada fornece, o seu vínculo mesmo com a transformação social é que deve ser questionado.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 08/05/2013.]

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