quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

[Crítica Social] Sobre Chávez e a grande mídia


SOBRE CHÁVEZ E A GRANDE MÍDIA

Ao contrário do que o leitor pode imaginar, não pretendo fazer aqui qualquer tipo de defesa do governo Chávez na Venezuela. Não porque o governo Chávez não mereça críticas – penso, na verdade, que merece muitas. Estou certo apenas de que estas críticas devem ser de um tipo inteiramente oposto àquele comumente veiculado.

Por ora, Chávez e a atual “crise institucional” da Venezuela interessam apenas por conta de uma outra questão. Como se sabe – por conta das notícias incessantes dos últimos dias –, é provável que Chávez, que está se submetendo a tratamento médico em Cuba, não possa participar amanhã da cerimônia de posse do mandato presidencial prevista na constituição venezuelana. Surge daí o questionamento jurídico (mas não apenas jurídico) mais elementar: o que fazer?

Há, como para todos os questionamentos jurídicos, interpretações divergentes. A cerimônia de posse pode ser considerada essencial, algo sem o que Chávez não poderia prosseguir para o seu 4º mandato como presidente da Venezuela. Ou pode ser considerada mera formalidade, algo dispensável ou que possa, ao menos, sofrer adiamento sem maiores problemas. A interpretação que irá prevalecer, como sempre, não é necessariamente aquela “mais próxima” do texto normativo – isto depende de fatores extrajurídicos complexos, que envolvem desde interesses econômicos e políticos até fatores conjunturais do momento em que o questionamento é posto.

A cobertura da grande mídia, no entanto, ignora pura e simplesmente toda essa complexidade. E o faz por uma razão deliberada e muito simples: a grande mídia já tomou a sua decisão. Todo o noticiamento da “crise institucional” venezuelana é marcado por um ponto de vista comum: Chávez não deve tomar posse. Exatamente por conta disso, a cerimônia é apresentada como essencial, porque “está na constituição” – qualquer outra possibilidade é apresentada em tom de absurdo e imediatamente identificada como contrária à ordem jurídica, como “golpe”.

Não que se espere que a mídia seja “neutra”. Tal neutralidade não existe. Mas a tomada de partido da grande mídia em relação à política venezuelana escancara um ponto de vista identificado visceralmente com as classes sociais mais elevadas. É para com estas classes sociais, parcialmente alijadas do poder na Venezuela, dominadoras dos grandes conglomerados midiáticos mundo afora, que vai a “solidariedade” dos grandes veículos de imprensa.

Basta recordar que “estar na constituição” nunca significou muito para a grande mídia brasileira, que apoiou o golpe militar de 1964 e, de lá para cá, não esteve sempre tão preocupada com a ordem jurídica. E, especificamente quanto à Venezuela, não se pode esquecer a tentativa de golpe contra Chávez em 2002 e a atuação partidária e desprezível da imprensa local na ocasião, que deliberadamente falseando notícias, como bem mostra o documentário “A revolução não será televisionada”.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 09/01/2013.]

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