quinta-feira, 13 de setembro de 2012

[Crítica Social] Conciliação e individualização da política


CONCILIAÇÃO E INDIVIDUALIZAÇÃO DA POLÍTICA

A campanha do PMDB à prefeitura de São Paulo tem se destacado por apostar todas as suas fichas num argumento do mesmo tipo: a conciliação. O candidato Gabriel Chalita é apresentado na propaganda eleitoral como aquele capaz de suspender a disputa partidária entre o PT do governo federal e o PSDB do governo estadual – o que se desdobra em várias frentes, desde uma suposta oposição entre investimento em corredores de ônibus e investimento em metrô até uma oposição muito mais significativa entre um “governo para os pobres” e um “governo para os ricos”.

Há aqui, é evidente, um ideal de “conciliação de classes” que, do ponto de vista de uma crítica social consequente e radical, não passa de falácia: toda “conciliação” implica manutenção da ordem estabelecida e, assim, manutenção do domínio de uma mesma classe. O argumento conciliador se revela mero revestimento ideológico (ou de marketing eleitoral) para uma posição conservadora. Sem mais.

Por outro lado, o argumento da campanha do PMDB tem por pano de fundo uma forma escancarada de individualização da política. A possibilidade de conciliação é inteiramente vinculada às competências e talentos atribuídos ao candidato. Toda a “solução” proposta é ancorada nos atributos de um único indivíduo. Tudo depende das qualidades que este "escolhido" possui e os outros – todos os outros – não.

Não se trata, não há qualquer dúvida, de um argumento eleitoralmente fracassado. O candidato do PMDB tem, segundo as últimas pesquisas, cerca de 7% das intenções de voto – e isto não é insignificante. A conciliação é atraente, “fácil”, e talvez seja mais simples confiar num indivíduo do que numa proposta política. Mas a individualização da política introduz um risco a ser levado a sério: a redução da política à dimensão meramente individual é, ao mesmo tempo, a completa extinção da política.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 12/09/2012.]

Nenhum comentário: