quinta-feira, 12 de julho de 2012

[Crítica Social] Sobre o 9 de julho de 1932


SOBRE O 9 DE JULHO DE 1932

“Celebramos” nesta semana os 80 anos da Revolução Constitucionalista de 1932. Como sempre, no dia 9 de julho, São Paulo dedica cerimônias grandiosas à memória dos seus revolucionários e a grande mídia noticia calorosamente o exemplo de bravura e dedicação daqueles que lutaram e morreram por “liberdade”. Mas, para além do clichê e do ufanismo, o que, afinal, há para lembrar e comemorar nesta data?

A “versão oficial” da história relata que o movimento paulista de 1932 lutou contra o governo ditatorial de Getúlio Vargas, exigindo a limitação dos poderes do governo federal por meio de uma constituição. Uma luta, portanto, do direito contra o arbítrio, da liberdade contra a opressão, da democracia contra a ditadura. Uma luta “legítima”, em que os paulistas, isolados, foram derrotados. E esta derrota alimenta – muito convenientemente, diga-se – há 80 anos o mito de que São Paulo está “à frente” dos outros estados do Brasil.

O que, no entanto, a “versão oficial” negligencia – “para o bem de São Paulo” – é que os motivos por detrás do 9 de julho são bastante mais complexos e bastante menos “nobres” do que se supõe. O “problema” real por detrás do governo Getúlio Vargas não estava exatamente circunscrito à ausência de uma constituição ou, de um modo geral, à falta de liberdade, mas ao fato de que a ascensão de Vargas ao poder significou o alijamento de uma velha oligarquia rural cuja sede era precisamente o estado de São Paulo. A velha oligarquia dominante desde a proclamação da república, a velha oligarquia do café e das eleições de fachada foi o lado perdedor, anos antes, na revolução de 1930.

Mais do que um movimento por avanços democráticos, por legitimidade política, por direitos e por liberdade, 1932 representa, portanto, uma luta pelo retrocesso. A história não é feita por discursos e, assim, o discurso da revolução não pode ser tomado a sério como o seu embasamento real. As palavras de ordem pela constitucionalização do país apenas levavam a cabo os anseios de uma pequena elite que tinha perdido o seu lugar privilegiado, que desejava avidamente retomá-lo e que não mediria esforços para tanto.

Os festejos em torno 1932 celebram há 80 anos esta tentativa de retomada do poder pela elite do café. E não se trata de uma grande causa para celebrar... Não há nada de especial, é bem verdade, para louvar no governo Vargas, mas há menos motivo ainda para louvar qualquer das pequenas elites que, ao longo da nossa história, alternaram-se no poder.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 11/07/2012.]

Nenhum comentário: