quinta-feira, 12 de abril de 2012

[Crítica Social] Sobre “salvar o mundo”


SOBRE “SALVAR O MUNDO”

“Salvar o mundo” tornou-se, desde há algum tempo, sinônimo de preservar (ou tentar preservar ou tentar diminuir a destruição) do meio ambiente. Tornou-se, em suma, sinônimo de salvar as florestas e os animais, minimizar o consumo de recursos naturais, reduzir a poluição etc. Mas o “mundo” a ser “salvo” é realmente é o mundo natural? Ou melhor, a “salvação” do meio ambiente faz sentido se desconectada do “mundo” propriamente humano e de todos os seus problemas – quero dizer, os problemas específicos da sociedade capitalista contemporânea –, cuja solução tem sido longamente negligenciada?

Antes de tudo, o meio ambiente que, de um modo geral, a onda “ambientalista” em voga (via de regra superficial, moralizante e acrítica) propõe “salvar” é apenas um certo meio ambiente. O planeta Terra já passou por provações piores do que a existência da espécie humana: já queimou com meteoros e erupções vulcânicas, já congelou durante longas eras glaciais e, ainda assim, a vida foi capaz de “reorganizar-se”, o meio ambiente foi capaz de “adaptar-se”. O que a destruição incessante da atual produção capitalista ameaça não é, portanto, a existência da vida e do meio ambiente natural da Terra como um todo – mas um certo “arranjo” do meio ambiente que permite a existência nele do homem como espécie.

Este “arranjo” ambiental específico é, do ponto de vista do “ambientalismo” (sobretudo de sua vertente que mais descaradamente se apóia no discurso da “sustentabilidade”), também o “arranjo” sobre o qual se sustenta a estrutura produtiva existente, que fornece as condições e os recursos naturais a partir dos quais se movimenta a produção capitalista. “Salvar” este “arranjo” específico do meio ambiente significa, portanto, “salvar” a possibilidade de perpetuação de uma específica forma de produção. “Salvar” o meio ambiente significa, mais do que “salvar” a existência do homo sapiens na Terra, “salvar” o capitalismo. “Salvar o mundo” releva assim o seu sentido mais profundo e oculto: trata-se de salvar precisamente aquilo que o destrói.

Não pretendo com isto afirmar, é evidente, que a questão ambiental seja pouco importante. Pelo contrário. Mas a questão política mais urgente, inclusive para a preservação do meio ambiente, não é a “salvação” do meio ambiente para o capitalismo: é salvar-nos do próprio capitalismo.

Isto implica a mais radical transformação das relações de produção. Implica, em última instância, a construção de uma forma de sociedade inteiramente outra, sem lugar para a exploração do trabalho pelo capital e sem lugar para a divisão da sociedade em classes. Esta nova forma de sociedade, fundada em relações de produção muito diversas das atuais, liberta da imposição de acumulação sem fim intrínseca ao movimento de multiplicação do capital, é, na verdade, a única autêntica alternativa para salvar os homens e o seu planeta.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 11/04/2012.]

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