quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

[Crítica Social] “País do futuro”


“PAÍS DO FUTURO”

Aquele famoso dito, que todo brasileiro ouve um sem-número de vezes ao longo da vida, segundo o qual o Brasil seria o “país do futuro” parece ter encontrado a sua realização. O eterno futuro já não é eterno, ao menos do (suspeitíssimo) ponto de vista político-eleitoral e midiático. Finalmente podemos marcar a data, reservar a agenda, saber que tal “futuro” é este. É a copa do mundo de 2014.

Todas as providências jamais tomadas, todas as transformações jamais efetivas, tudo que ao longo de décadas permaneceu no limbo do esquecimento e do descaso agora se tornou “prioridade”. É preciso incrementar a segurança pública, equipar e treinar a polícia. É preciso “embelezar” (ou maquiar) as cidades, torná-las mais “agradáveis”, mais “habitáveis”. É preciso construir estradas, estender linhas de metrô, melhorar e modernizar o sistema de transporte público. É preciso ampliar os aeroportos, torná-los adequados à demanda de passageiros. É preciso (e isto parece ser o mais importante) construir estádios, muitos estádios, para abrigar os jogos do campeonato.

É preciso, em suma, tornar o Brasil tudo aquilo que o Brasil nunca foi. É preciso agir, é preciso urgência. Mas nada disto, estranhamente, foi preciso antes. Nunca antes, por nenhum clamor social, exigiu-se esforço semelhante. A população brasileira, por si mesma, não necessita ou não merece, é o que talvez devamos crer. Mas a copa do mundo, sim. Para a copa do mundo, apenas para ela, é preciso vencer obstáculos profundamente arraigados, dar conta de uma série de questões históricas do Brasil. Para a copa do mundo, tudo.

Ora, a população brasileira, de fato, não é a beneficiária de nada disto que se pretende realizar. Nenhuma reforma, nenhuma medida, nenhum investimento se dirige direta e especificamente a uma melhora na qualidade de vida da população. Nenhum dinheiro é “jogado fora” com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais enormes e históricas que caracterizam a realidade brasileira. As reformas, medidas e investimentos – inclusive os gigantescos investimentos públicos – realizados por conta da copa tem por objetivo a multiplicação de alguns – já grandes, porém sempre sedentos – capitais.

As obras e iniciativas relacionadas à copa de 2014 não são obras e iniciativas para a população. Não são obras e iniciativas para construir um Brasil melhor para o seu povo. São obras e iniciativas para construir, para alguns poucos, um Brasil mais lucrativo...

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 01/02/2012.]

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