quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

[Crítica Social] Dois pesos e duas medidas


DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

Uma visita da presidente Dilma Rousseff a Cuba e um pedido de visto para visita ao Brasil da blogueira Yoani Sánchez serviram, ao longo da última semana, para todo um “movimento” supostamente pró-democracia por conta da grande mídia brasileira. Censuras sem fim contra a “ditadura” cubana, críticas à postura “complacente” da presidente pela visita e um discurso clichê repetido sem cessar sobre direitos humanos. Mas qual o verdadeiro sentido deste “esforço” midiático tão escancarado?

Criticar a política de Cuba é fácil, principalmente do ponto de vista da esquerda. A revolução cubana nunca pôde avançar, o socialismo cubano nunca pôde se desenvolver por inteiro e, exatamente por isso, Cuba não pode ser um grande exemplo na luta contra a estrutura social presente, em especial para a atuação mais crítica neste sentido. Mas esta, em definitivo, não é a crítica da grande mídia brasileira. O que esta procura fazer, valendo-se inescrupulosamente do monopólio da “interpretação” dos fatos que a caracteriza, é identificar imediatamente a realidade cubana com o conjunto das propostas da esquerda, como um ideal, uma ideologia etc.

Para tanto, a crítica propalada pela grande mídia brasileira utiliza a democracia e os direitos humanos como chavões, mas não está verdadeiramente preocupada com qualquer destes ideais. A sua utilização tem por intuito acusar a esquerda como um todo de ser o seu “inverso”, quer dizer, de ser “ditatorial”, “desumana”, “arbitrária” e tudo mais que se possa encaixar levianamente nas brechas do discurso politicamente interessado e superficial. Esta crítica se coloca claramente sob o prisma da direita: os seus objetivos últimos são a legitimação da ordem estabelecida e a deslegitimação de toda e qualquer postura crítica a esta ordem.

Pode-se bem observar que os mesmos veículos de imprensa que não poupam esforços para atacar a política cubana costumam silenciar a respeito das mazelas da “democracia” e dos “direitos humanos” que afligem outros lugares do planeta. Que alguns dos governos dos países-modelo do ocidente civilizado não tenham sido eleitos pelo voto direto parece de pouca importância. Que os direitos humanos sejam constantemente atacados por parte desses mesmos países também. Os abusos cometidos pelos EUA na suposta “guerra contra o terror” (que incluem invasões no Oriente Médio, tortura, “ataques preventivos” e a manutenção de uma base militar “alheia” aos direitos humanos em Guantánamo) são francamente minimizados. O massacre aos direitos sociais (que também são direitos humanos) na Europa em crise é apresentado como questão de “prudência”. Mas os países das margens do mundo, que não seguem a “cartilha” da política tipicamente burguesa, são sempre e por qualquer pretexto alvo de polêmica e censura.

São, no fim das contas, dois pesos e duas medidas. E a grande mídia brasileira assim revela de qual lado está.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 08/02/2012.]

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