quinta-feira, 6 de outubro de 2011

[Crítica Social] Luta de classes, sim


LUTA DE CLASSES, SIM

Por que é tão necessário declarar extinta a luta de classes? Por que é tão imprescindível repetir, antes mesmo que qualquer debate sério a respeito (re)comece, que se trata de uma velharia, “paradigma” superado, algo “fora de moda”. Por que é tão urgente insistir no seu fim, na sua morte, na sua superação, especialmente quando os primeiros indícios de fumaça aparecem no horizonte?

Se a luta de classes acabou, o que os entusiastas do “novo” mundo do fim do séc. XX e início do séc. XXI pretendem colocar em seu lugar: uma sociedade harmônica, sem classes, da solidariedade? Ou a simples vitória definitiva – o “fim da história” – de uma classe sobre a outra?

Ora, a sociedade capitalista não é – e não pode ser – uma sociedade harmônica: a sua estrutura produtiva opõe necessariamente uma minoria de detentores do capital e uma maioria de despossuídos cuja única alternativa é viver do próprio trabalho. Pelo mesmo motivo, também não pode ser senão o campo de uma luta permanente: o domínio contínuo de uma classe nunca será vitória definitiva, porque a “vida” da sua estrutura econômica é a oposição, porque o seu movimento é a própria contradição.

A luta de classes é inerente à sociedade capitalista e está, na verdade, muito longe de acabar. A pressa e a urgência da classe dominante em declarar o seu fim é o mais evidente sintoma disto. O incremento visível desta pressa e desta urgência no momento em que o capitalismo enfrenta mais uma de suas crises é a demonstração cabal da plena vitalidade desta contradição fundamental.

Se as fábricas do mundo capitalista globalizado deslocaram-se para a China e o movimento político dos trabalhadores perdeu força por conta da queda do Muro de Berlim e dos processos de integração pelo consumo, isto não significa que a luta de classes tenha desaparecido ou se esfumaçado. Quando protestos tomam as ruas da Europa em crise e manifestantes propõem ocupar Wall Street contra o “mercado financeiro”, quando grupos abertamente conservadores começam as mostrar as caras e exigir um lugar em cena, é certo que não se fala de outra coisa senão luta de classes. Quando se trata de movimentos ambientais, de minorias, de excluídos, é certo que não se fala de outra coisa – ainda que os próprios movimentos não o saibam – senão de luta de classes. A luta de classes perpassa todas as grandes questões sociais do presente, manifesta-se em vários fronts, tem muitas demandas e muitas vozes: o imperativo dos nossos dias é conectar novamente essas múltiplas lutas, no que lhes há de comum, e dirigi-las contra o alvo exato.

Pois o espectro que, mais de 150 anos atrás, rondava a Europa não foi exorcizado – e agora não ronda apenas a Europa, mas o mundo. Este espectro, concorde ou não com isto a classe dominante, não deixará de causar calafrios à segurança da ordem estabelecida, não deixará de assombrar a solidez deste mundo, ao menos enquanto este mundo perdurar.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 05/10/2011.]

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