quinta-feira, 13 de outubro de 2011

[Crítica Social] De volta à produção


DE VOLTA À PRODUÇÃO

Muito se discute hoje, sobretudo em vista das questões ambientais e da crise econômica que se prolonga desde 2008, a respeito do consumo e das finanças. Assim, de um lado, ambientalistas e adeptos da gestão responsável, do consumo consciente ou de qualquer ideal do gênero propõem mudanças contingenciais na esfera do consumo como meio de “redenção”. De outro lado, economistas debatem índices, cotações, variações cambiais, enfim, números, como se tais números tivessem realidade independente, como se gerassem a si próprios – e são assim forçados a “explicar” tudo que há de incongruente com os números com base na “imoralidade”, no “excesso de ganância” ou “desvios” do gênero.

O que praticamente todos aqui negligenciam, consciente ou inconscientemente, é a esfera da produção. E ao fazê-lo, o que se negligencia não é nada menos do que a esfera determinante da economia como um todo. O que se negligencia é o evidente fato de que não se pode consumir senão o que é produzido. O que se negligencia é o evidente fato de que só pode haver finanças numa economia em que, antes de tudo mais, produz-se.

Desse modo, todas as propostas de transformação das relações de consumo, especialmente os apelos à limitação do consumo pela consciência, condenam-se por conta própria, exatamente pela incapacidade de ir além do consumo, à inocuidade. Pois o problema fundamental – e é isto que se ignora – não está no consumo, mas na produção: é a estrutura produtiva do capitalismo, inexoravelmente voltada à multiplicação contínua do capital, que não pode existir senão como devoradora insaciável do meio ambiente. Consumir conscientemente, consumir seletivamente ou reciclar o lixo, na medida em que não alteram a essência da estrutura produtiva, são medidas não mais do que paliativas, capazes, na melhor das hipóteses, de atrasar o colapso em alguns instantes.

No mesmo sentido, a aparente automultiplicação das finanças só pode ser imaginada ao desconectar-se o que não pode ser desconectado. A multiplicação do capital pode ocorrer apenas pela exploração do trabalho, o que significa que pode ocorrer apenas na produção. Assim, toda a variação das finanças não se deve, em última instância, às próprias finanças. Mesmo a sua aparente autonomia só pode ser proposta em vista da dependência crescente do capital produtivo ao capital financeiro, mas de qualquer modo em vista da relação das finanças com a produção. Portanto a crise da economia capitalista só pode ser entendida como crise financeira por um olhar muito parcial: as raízes da crise só podem ser verdadeiramente encontradas nas relações de produção.

Em suma, apenas uma transformação da estrutura produtiva pode pôr fim à completa desmedida na exploração dos recursos ambientais. E, claro, apenas uma transformação das relações de produção capitalistas podem pôr fim à crise da produção capitalista. Voltar à produção é, de qualquer modo, indispensável.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 12/10/2011.]

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