quinta-feira, 20 de outubro de 2011

[Crítica Social] Causas e conseqüências


CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS

Ninguém pode razoavelmente pretender resolver um problema senão agindo contra as suas causas. – Isto é nada mais, nada menos que o óbvio. No entanto, repetir o óbvio é, às vezes, necessário: porque, às vezes, até o óbvio é completamente esquecido, negligenciado ou soterrado pelos mais diversos tipos de distorção e mistificação.

Assim, quando tratamos dos “problemas” da economia capitalista, uma “solução” só pode ser efetiva se buscar, pelas raízes, agir sobre as causas. Tais causas, é claro, estão na própria estrutura social determinada pelas relações capitalistas de produção, isto é, nas profundezas desta forma social específica determinada por seu específico modo de produção.

Nesse sentido, se a crise econômica se manifesta no setor financeiro, isto não quer dizer que se trata de uma crise do setor financeiro. Uma gripe pode muito bem manifestar-se no espirro, mas é muito mais do que o espirro: apenas um entendimento muito precário poderia tomar o espirro como a própria gripe. Deste ponto de vista, quando se aponta o “excesso de ganância” dos operadores de finanças ou o “descontrole” da especulação como “causa” da crise, não se vai além da mais absoluta superfície. A crise tem suas verdadeiras causas na produção capitalista, é mais uma das crises cíclicas do modo de produção capitalista: só pode ser “solucionada” – em sentido igualmente radical – pela transformação dessas relações de produção.

Do mesmo modo, quando as convulsões do capitalismo contemporâneo aparecem com maior intensidade em certos países, como hoje acontece em Portugal ou na Grécia, isto de modo algum significa que sejam questões tão-somente locais e isoladas. Quando, como “causas” para tais acontecimentos, apontam-se os “excessos” dos gastos sociais do Estado, mais uma vez não se o ultrapassa a superfície. Pois o corte de gastos sociais não pode senão garantir um alívio momentâneo para os capitais, mas não “soluciona” nada: na exata medida em que permite a sobrevida do mesmo modelo econômico, apenas posterga convulsões futuras.

Ora, os “problemas” da economia capitalista são “problemas” da economia capitalista. Ainda que se manifestem em setores isolados, ainda que apareçam com mais evidência em lugares específicos, são questões estruturais. A tentativa de apresentá-los como isolados ou, de modo geral, de limitar-lhes a extensão tem como interesse imediato a mistificadora insistência na possibilidade de um capitalismo harmônico, perfectível, potencialmente livre de crises. É fruto da recusa obstinada a buscar as verdadeiras causas: porque as verdadeiras causas estão no próprio capitalismo e, portanto, apenas a sua superação pode ser encarada como solução autêntica.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 19/10/2011.]

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