quinta-feira, 23 de junho de 2011

[Crítica Social] Capitalismo, comida e terror

CAPITALISMO, COMIDA E TERROR

Food Inc., lançado em 2008, é um interessante documentário que denuncia muito do que há de escuso e terrível por trás de algumas das maiores corporações mundiais do setor de alimentos. O vídeo exige, na verdade, muito do estômago do espectador que, minuto a minuto, é levado a saber o que há na carne, no milho ou na soja que diariamente ingerimos – ou melhor, aquilo que os interesses mais incontroláveis na multiplicação dos lucros nos levam a ingerir na carne, no milho ou na soja, bem como os riscos decorrentes disto.

Acima de tudo, é chocante pensar, em vista de todas as denúncias – e, no fundo, deve haver muito mais a denunciar –, o que as relações econômicas em meios às quais vivemos podem nos proporcionar. Como todos os setores da indústria no mundo capitalista, a indústria de alimentos tem uma meta que sobrepõe todas mais: o lucro. Como qualquer capital que produz, o capital industrial radicado no setor de alimentos vê os seus produtos como meros suportes de valor, ou seja, pura e simplesmente como mercadorias – tudo que importa, então, é que tais mercadorias sejam produzidas com o menor custo possível e que sejam vendidas na maior quantidade possível.

Noutras palavras, pouco importa que as mercadorias sejam, neste caso, alimento. Pouco importa que elas venham a preencher estômagos – muitos estômagos –, que venham a transformar-se na vida e na saúda de milhares ou milhões de pessoas. Pouco importa que os “efeitos colaterais” sejam terríveis, pouco importa se esta comida é, na verdade, veneno. Pouco importa tudo isto, porque, no fim das contas, pouco importa para que serve a mercadoria, o que ela faz ou a que necessidades atende – desde que alguém a compre.

Entre destruir a saúde dos consumidores ou reduzir as taxas de lucro, o capital não pode senão escolher a primeira opção. Afinal, lucrar vendendo veneno ou vendendo comida é, para o capital, absolutamente indiferente: se, no limite, for mais lucrativo vender veneno como comida...

O grande problema, claro, é que, no mundo capitalista, ninguém pode ter acesso a mercadoria alguma, nem mesmo aos alimentos ou ao que há de mais básico para a sobrevivência, senão por intermédio do mercado. E a grande capital, é claro, domina, como em todos os setores, a esmagadora maior parcela do mercado. Por detrás da imensa variedade de tipos, marcas, rótulos, embalagens etc. não há, na verdade, muita escolha. Não há alternativa. O capital é que decide, por seus próprios interesses, o que nós comeremos.

Nós literalmente não sabemos sequer o que estamos comendo – e, seja lá o que for, isto talvez nos mate... Mas que importa, que diferença faz, se o lucro de alguém estiver ainda garantido?

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 22/06/2011.]

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