quinta-feira, 5 de maio de 2011

[Crítica Social] Sobre a morte de Bin Laden

SOBRE A MORTE DE BIN LADEN

A morte de Osama Bin Laden, do grupo Al Qaeda, suposto mentor dos ataques ao World Trade Center em 2001, é a grande notícia dos últimos dias. Imagens de multidões de americanos comemorando nas ruas, todos morbidamente satisfeitos com um assassínio aparentemente muito aguardado, têm povoado cada minuto disponível na TV. Depoimentos regozijantes da alta cúpula do governo dos EUA sacramentam o que dizem ser uma “vitória histórica” contra o terrorismo. A “vingança” ou a “justiça” – no fundo, tanto faz – supostamente foi, enfim, feita.

Mas seria realmente Bin Laden, como querem que acreditemos, uma espécie de demônio, encarnação do “mal”, a personificação de todo o terror? Seria Bin Laden, em pessoa, o responsável pelo fenômeno do terrorismo? Seria a morte de Bin Laden, então, a solução? A resposta a todas essas perguntas só pode ser – não.

A morte de Bin Laden certamente satisfaz interesses políticos e, sobretudo, eleitorais nos EUA, mas talvez mais atrapalhe do que ajude o “combate ao terrorismo” que tanto ocupa os Estados mais poderosos do ocidente.

Em primeiro lugar, porque Bin Laden é apenas um homem, apenas um líder, mas de nenhuma forma o único e não necessariamente o mais importante. O exército americano assassinou, na “melhor” das hipóteses, um “símbolo”, mas a grande rede de homens, armas e recursos por detrás dele continua intacta. Nesse sentido, a morte brutal de Bin Laden apenas acrescenta mais um “motivo” para o desencadeamento de atentados ou ataques de quaisquer tipos.

Em segundo lugar, porque o simplismo desta solução homicida, quero dizer, desta solução segundo a qual a morte de um homem é o quanto basta, deliberadamente apaga todos os questionamentos acerca das reais causas do terrorismo. Se o “combate ao terrorismo”, afinal, está resumido ao assassinato de um homem, nada mais importa. Mas o terrorismo continua, de um modo geral, conectado com a expansão globalizante do capital e as suas conseqüências, como, por exemplo, uma homogeneização cultural forçada que põe em risco todo um modo de vida centrado nas tradições do islamismo. Quanto a isto, ninguém se preocupa. Contra o massacre – cultural, mas não apenas cultural – dos povos do Oriente Médio, nenhum dos grandes Estados do ocidente se movimenta: vivo ou morto Bin Laden, o capital prossegue em sua marcha voraz.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 04/05/2011.]

Nenhum comentário: