quinta-feira, 24 de março de 2011

[Crítica Social] Sobre a crise nuclear em Fukushima

SOBRE A CRISE NUCLEAR EM FUKUSHIMA

Um terremoto devastador. Ondas gigantes que invadem cidades. Nem todas as catástrofes naturais podem ser reputadas, nem mesmo indiretamente, à ação humana. E não se pode deter por completo tais catástrofes. É possível, em certos casos, minimizar os seus efeitos destrutivos, mas não mais do que isto. O que se passou no Japão há pouco mais de uma semana é exemplar a esse respeito: só o excepcional preparo do país para lidar com terremotos – que envolve desde a técnica de construção dos edifícios à educação permanente dos japoneses para enfrentar tais situações – pode explicar por que o número de mortes não foi ainda maior e por que o país não submergiu no caos. Não é “culpa” de ninguém – pelo contrário, é mérito dos japoneses que um desastre de tal dimensão tenha sido bastante minimizado.

Este, porém, não é o caso do que tem se passado na usina nuclear de Fukushima. A causa imediata do desastre pode ser reputada ao imponderável, mas isto não pode bastar como explicação. Uma usina situada à beira-mar, num local particularmente propício à ocorrência de tremores, não poderia falhar por conta de uma tsunami. Um dispositivo gerador de energia que precisa ser resfriado para não se tornar uma arma de destruição em massa não poderia depender de um único – e sempre falível – sistema reserva de resfriamento. Especialmente para algo que guarda em si tantos e tamanhos riscos, tais falhas por certo não são admissíveis.

Mais ainda, qual é, afinal, o sentido de utilizar combustível atômico para a geração de energia? Qual o sentido de confinar o mesmo material empregado para construir a arma mais devastadora já criada num reator e situá-lo próximo à população?

Não há dúvida de que outros meios de geração de energia também carregam riscos. A ruptura de uma usina hidroelétrica ou a explosão de uma termoelétrica podem certamente causar danos e mortes em grande extensão. Um acidente atômico, no entanto, gera efeitos para muito além do imediato: durante décadas os resíduos radioativos contaminam solo, água, alimentos e, direta ou indiretamente, pessoas. Os males daí decorrentes não se limitam nem no tempo nem no espaço.

Se gerar energia elétrica é uma necessidade incontornável no mundo contemporâneo, cabe ainda questionar se fazê-lo através de urânio ou plutônio é mesmo justificável. Ora, para que serve esta energia? Para quem? Pois é fácil apelar ao lugar comum segundo o qual a eletricidade é necessária para mover as pequenas comodidades que colonizam o nosso cotidiano, mas isto não é a inteira verdade: é sobretudo a grande indústria que consome grandes quantidades de energia e que, portanto, demanda a construção de mais e mais usinas elétricas para a sua expansão.

Há, no fim das contas, uma “culpa” por detrás de todo incidente atômico. Há interesses que exigem a construção, não raro apressada e descurada da segurança, destas usinas. Interesses no lucro. As conseqüências, porém, são repartidas por todos, sobretudo por quem nunca lucrou...

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 23/03/2011.]

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