domingo, 26 de setembro de 2010

[Crítica Social] Escola e polícia

ESCOLA E POLÍCIA

Colocar um número fixo de policiais dentro de cada escola pública. Esta seria, segundo argumenta um candidato, a resposta adequada aos problemas da educação pública, sobretudo no que diz respeito ao controle disciplinar dos alunos e ao combate ao tráfico de drogas no interior das escolas. Eis uma surpreende proposta educacional...

Surpreendente, na verdade, não pelo simples fato de aparecer como proposta eleitoral. Qualquer coisa pode ser proposta eleitoral. Nas eleições, no fim das contas, impera um infeliz “vale tudo” que abre sempre espaço para qualquer argumento, mesmo os mais aberrantes e sem sentido. E é impossível não reconhecer que este apelo à temerária ideologia de “lei e ordem” convence mesmo parte dos eleitores...

Surpreende, contudo, que a educação seja encarada de uma tal maneira. Pois não se trata, neste caso, apenas de levar o poder armado para dentro de um espaço que deveria ser dedicado ao conhecimento. Não se trata apenas da exacerbação do controle policial e de formas de autoritarismo que, por vezes, imaginamos superadas desde o fim da ditadura militar. Trata-se do completo escracho de uma concepção distorcida da própria educação, uma concepção segundo a qual a educação deve dar-se por imposição, à força se preciso for.

Ora, o que esperar de uma educação assim? Num espaço em que a hierarquia entre a instituição escola e os estudantes é permanentemente reforçada, como esperar que o conhecimento seja, como deveria ser, construído em conjunto por professores e alunos? Como esperar que um estudante educado “na marra”, com as lições impostas “goela abaixo”, mais pelo medo da autoridade do que pelo respeito pelo conhecimento e pelo próximo, seja afinal formado para a sociedade e para a vida política?

O que, no fundo, escapa por completo a esta visão policial da educação é a compreensão de que a escola não é um espaço alheio, isolado do mundo ao redor. Se vivemos numa sociedade violenta, se assistimos em todos os lugares a uma “escalada” do crime, por que isto seria diferente na escola? Os problemas sociais aparecerão todos, sem dúvida, também na escola, porque a escola é parte da sociedade. Mas se a repressão policial não é a solução – visto que, na melhor das hipóteses, enfrenta as conseqüências, jamais as causas – para qualquer desses problemas fora da escola, por seria a solução dentro delas?

Uma escola diferente, radicalmente diferente, só é possível numa sociedade radicalmente diferente. Isto, porém, está muito além do discurso eleitoral...

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 22/09/2010.]

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