segunda-feira, 12 de julho de 2010

[Crítica Social] Água, óleo, dólares

ÁGUA, ÓLEO, DÓLARES

Em abril último, após um acidente na plataforma Deepwater Horizon, da empresa British Petroleum, que retirava petróleo do fundo do Golfo México, um enorme vazamento de petróleo no mar teve início. Estima-se que algo entre 35 e 60 mil barris de petróleo vazam diariamente – um barril tem cerca de 159 litros, portanto o vazamento pode chegar a cerca de 9,5 milhões de litros diários de petróleo –, num total, ainda segundo estimativas, que pode ultrapassar os 3,5 milhões de barris ao longo de mais de 70 dias.

Já se considera este um derramamento de petróleo sem precedentes, simplesmente o maior da história. A catástrofe ambiental piora a cada dia, atinge centenas de espécies, ameaça ecossistemas, já atinge as praias de vários estados dos EUA e se apresenta como uma enorme mancha de petróleo flutuando nas águas do Golfo do México. A despeito dos esforços de contenção do vazamento e de “limpeza” do petróleo já derramado, a contaminação certamente levará anos para ser completamente dissipada.

Estranho é que, ao que parece, não se consegue lidar com a situação senão pela avaliação monetária. Basta acompanhar os noticiários para constatar. Logo após o incidente, a maior discussão girava em torno do limite, em dólares, dos custos que deveriam ser arcados pela British Petroleum na recuperação da área. Depois, semana após semana, é notícia infalível em todos os jornais a atualização dos recursos já desembolsados pela empresa – a última dá conta de um total de 3,12 bilhões de dólares. E sempre que se pretende mostrar os enormes danos decorrentes do petróleo derramado, a única medida aparentemente possível é dada em dólares, pelos “prejuízos” causados, cujas cifras são sempre mais do que milionárias.

Os “prejuízos”, no entanto, vão muito além daquilo que os dólares podem alcançar. Não quero com isso, é evidente, negar o aspecto econômico do desastre – para os pescadores, para todos aqueles cujos empregos dependem do turismo, para a população das áreas atingidas pela mancha de petróleo certamente os danos econômicos serão muitos mesmo. Por outro lado, o dano propriamente ambiental, isto é, a destruição do meio ambiente causada pelo vazamento, não pode sequer ser avaliada monetariamente. Os animais mortos, a fauna marinha afetada, os ecossistemas contaminados, tudo isto está além do que pode ser quantificado em qualquer moeda. Nenhum dinheiro poderá, afinal, desfazer tal dano.

A sociedade capitalista, mesmo diante da catástrofe, não é capaz de tomar a natureza senão como mercadoria, senão como coleção de recursos cujo único aproveitamento possível é mercantil. Mesmo que a sobrevida humana na Terra dependa da natureza, mesmo que a exploração desmedida do meio ambiente aponte para a extinção da própria espécie homo sapiens, ainda assim não se é capaz de ver a natureza de outro modo. O dinheiro, no entanto, não pode tudo...

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 07/07/2010.]

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