domingo, 20 de junho de 2010

[Crítica Social] Sobre a greve nas universidades paulistas

SOBRE A GREVE NAS UNIVERSIDADES PAULISTAS

Já há mais de um mês os funcionários das três maiores universidades públicas paulistas – USP, Unesp e Unicamp – estão em greve. A resistência das respectivas reitorias às reivindicações faz, ainda neste momento, com que não haja perspectivas próximas de retorno. Como sempre, a grande mídia condena a paralisação. Parte dos estudantes e dos professores também recusa sua solidariedade aos funcionários. Ao que parece, no entanto, poucos se preocupam em investigar realmente quais os motivos da greve.

Em março último, o governo de São Paulo aprovou um reajuste salarial de 6% aos professores – e apenas aos professores, não aos demais funcionários – das universidades públicas do estado. A isonomia, dentro da universidade, entre os funcionários docentes e os funcionários não-docentes foi, assim, inteiramente violada: não apenas salários diferentes, mas um tratamento diferente, com aumentos sendo concedidos a uma categoria e não às demais. Esta é a principal razão da insatisfação dos funcionários.

Tal diferença de tratamento reforça uma espécie absurda de “hierarquia” no interior da universidade, como se houvesse um “degrau” entre os docentes e os demais funcionários. Reforça-se, em verdade, a distinção entre trabalho intelectual e trabalho manual, como se os docentes realizassem todo o trabalho diretivo relevante e os funcionários apenas executassem mecanicamente as decisões superiores, merecendo estes, então, um tratamento inferior. Esta distinção é obviamente estabelecida em prejuízo do trabalhador, sempre como meio de desqualificação de suas atividades e, por isso mesmo, deve ser combatida – mais ainda no ambiente da universidade que, exatamente por ser um ambiente intelectualizado, deveria ser exemplar a este respeito.

O reajuste salarial concedido apenas a uma categoria dá a entender, no fim das contas, que os docentes, porque ministram as aulas, seriam indispensáveis para a universidade, mas os funcionários, tratados como meros “serviçais”, não. Isto é absolutamente falso. Não é possível sequer a existência das aulas sem os funcionários, bem como não seriam possíveis sem os funcionários nenhuma das demais atividades da universidade. Não há e não pode haver qualquer oposição entre o trabalho do docente e o trabalho do funcionário porque a universidade não pode ser senão o conjunto paritário destes com os estudantes.

A reivindicação dos funcionários tem, portanto, mais peso do que uma simples reivindicação salarial. Trata-se de reivindicação que deveria ser de toda a universidade, um protesto contra a inferiorização do trabalhador. Assim, embora a greve possa prejudicar pesquisas, suspender atividades de extensão e alterar o calendário universitário, é preciso reconhecer as razões dos funcionários. É preciso, mais ainda, reconhecer a legitimidade de sua exigência. Pois, neste momento, os funcionários encarnam a luta pelo melhor da universidade pública.

[Publicações: O REGIONAL (Catanduva-SP), 16/06/2010.]

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