quarta-feira, 8 de abril de 2009

[NJ] Capitalismo e destruição ambiental

CAPITALISMO E DESTRUIÇÃO AMBIENTAL

A questão da destruição do meio ambiente – poluição, devastação das florestas, contaminação das águas e do solo, aquecimento global etc. – tornou-se notícia. Mas uma notícia que já sai atrasada, não há dúvida. Uma notícia que vem preocupar os homens quando os níveis gerais de empesteamento e esgotamento da natureza já ultrapassaram todos os limites, de um modo tal que já não se pode cogitar voltar atrás pura e simplesmente. Uma notícia que só vem à luz quando a própria possibilidade da existência do homem neste dado meio natural – o do planeta Terra – vê-se seriamente ameaçada.

Fala-se agora, e muito, em como conter a ação humana de modo a reduzir a voracidade com que se destrói a natureza. Fala-se em como conciliar a atividade econômica com a preservação do que resta de natureza no mundo. Fala-se em como pôr “rédeas” a esta atividade econômica, de modo a obrigá-la a arcar com os “custos” (ou pelo menos parte deles) da destruição ambiental. Fala-se, com especial destaque na grande mídia, em como pequenas ações voluntaristas e solidárias dos indivíduos da sociedade civil podem ajudar – coleta seletiva, reciclagem, uso do transporte público, consumo consciente etc.

O que não se fala, ou melhor, o que não se pergunta: por quê? Ora, há, sim, uma aceleração da destruição da natureza. Há, sim, uma aceleração rumo à catástrofe ecológica. Há, sim, algo que, pela primeira vez, coloca aos homens a questão da sua extinção como espécie... e por suas próprias ações... Por quê?

Homens têm vivido na Terra há milhares de anos. Homens têm consumido os recursos naturais, têm plantado e colhido, têm produzido socialmente os meios de sua sobrevivência, há milhares de anos – mas a ação humana sobre a Terra nunca antes havia se deparado com a possibilidade de destruição final da própria Terra e, conseqüentemente, do próprio homem. Se, afinal, os homens têm usufruído a natureza há milhares de anos, por que apenas nos últimos 150 ou 200 anos os níveis de degradação ambiental tornaram-se preocupantes? Por que apenas nos últimos 50 anos tal degradação tornou-se potencialmente catastrófica? Por que apenas nos últimos 30 anos a possibilidade de esgotamento cabal da Terra tornou-se plausível?

O que levou os homens, nestes últimos anos de sua história, a acelerar de tal maneira a degradação ambiental é a forma de organização da produção e da vida social que vieram a adotar. Refiro-me ao capitalismo, organização social da produção orientada não à satisfação de necessidades humanas (valor de uso), mas à trocabilidade (valor de troca) daquilo que é produzido, de maneira a ativar o ciclo pelo qual o capital se multiplica. Organização social da produção orientada não à necessidade, mas à acumulação, ao lucro, que visa produzir tudo quanto se possa vender – e não tudo quanto seja necessário – e tanto quanto se possa vender – e não tanto quanto seja necessário. Inexoravelmente tendente, portanto, ao máximo da exploração do trabalho humano e da natureza – pois quanto mais exploração, mais multiplicação do capital, isto é, mais lucro.

Assim, a única maneira de efetivamente impedir o esgotamento absoluto da natureza, a barbárie ambiental final, é o advento de uma nova organização social da produção. Uma organização voltada efetivamente ao homem, à sua realização – não a uma força cega a tudo que não seja a multiplicação, o ganho, a autovalorização do valor, quero dizer, não ao capital. As “rédeas”, os controles, as iniciativas voluntaristas etc. que não rompem com o capitalismo não devem ser desprezadas, mas é preciso ter em conta que apenas adiarão a catástrofe. Todo o discurso do “desenvolvimento sustentável” reduz-se a isso: ter o que destruir ainda amanhã – parar de destruir está fora de cogitação.

O capitalismo devora a natureza e continuará a devorá-la enquanto tal ação destrutiva do homem continuar a converter-se em lucro. Pela preservação do lucro de alguns os homens caminham todos para o fim. “Après moi le déluge!” (“Depois de mim, o dilúvio!”) – como bem diz Marx – é a divisa fundamental de todo capitalista. Que o mundo desabe sobre a cabeça do próximo. Mas “o próximo” somos, agora, todos nós.

[Publicado no JORNAL DIÁRIO de Dracena-SP em 05/04/2009.]